sobre datas comemorativas da falha humana

  • sábado, 26 de dezembro de 2009
  • Wash.
  • e lá vem mais um natal. aquele mesmo negócio, todo ano, que a gente já sabe por simbiose: as velhas lendas cristãs infundadas, o velho Santa da coca cola, época de fartura de trampo pra renas, anões e tios de barba branca imensa, avenida paulista intransitável por causa das malditas fachadas enfeitadas dos bancos, 25 de março parecendo um piscinão público... issumemo: já deu pra sacar que não me simpatizo com o natal, tamo entendido?

    creio que fazem uma bela saraivada de anos que o natal não tem um bom significado pra mim. ou nem é pelo significado, afinal é só mais uma dessas datas que não representa mais do que venderem presentes pra pessoas que se odeiam o ano inteiro e encontram ali naquele dia um motivozinho pra se entenderem - mas só naquele dia!... well, hipocrisias à parte, na verdade natal é algo que nem me recordo bem, ter um dia bom, completamente despreocupado ao seu longo. e eu sempre tava com cara de bunda. sem grana, ou cheio de dividas atrasadas, ou a garota estava longe, ou qualquer outra merda que transforma seu dia comum num divertido weekend com Torquemada no seu playground inquisitivo... uma delícia. então me lembrei de uma determinada data, a do ano de 1999, se não me engano, que provavelmente foi a mais cáustica das minhas "festividades natalinas".

    estava em Ibaraki-ken, no Japão, ja fazia bem uns 6 meses carregando caixas de 40 quilos vindas do estreito de Behring, cheias de King Crab. trampinho lazarento aquele. vamos dizer que um belo dia rolou uma presepada com os donos do galpão, e eu me injuriei da merda toda e dei linha no pipa. num prazo de 3 dias, meu "agente-metido-a-yakuza" me arrumou um trampo na extremidade sul do pais, coisa de 800 km de onde eu estava inicialmente, no rabo de Mie-ken. nem me lembro o nome da cidade, era um vilarejo abandonado pelo progresso tecnológico, tipico em qualquer outro canto do japão, menos ali. lembro que era a penultima estação da linha ferroviaria: uma lavanderia industrial de lençóis sujos. dai já dá um pressuposto que eu tinha me metido numa bela duma enrascada, dessas de lavar banheiro de quartel com escova de dente.

    o trabalho consistia basicamente em recolher esses lençois, vindos de motéis e hospitais japoneses (...), condiciona-los num grande tanque de agua fervendo e depois de lavados e centrifugados, se estendia um por um e os enfiava em enormes passadeiras fumegantes. o troço já saia do outro lado da máquina passado e dobrado. enfim, parecia moleza, a não ser por alguns detalhes:

    1- você pega um lençol quente e úmido, o estende com a ponta dos dedos e enfia uma extremidade no rolo da máquina, ela o engole. um lençol: ok. dois lençois: ok. mas já experimentou fazer isso durante 12 horas no dia??... no fim do primeiro dia minha coluna estava latejando, em formato de "S", e a lateral do meu polegar estava em carne viva. em uma semana, eu não tinha mais impressões digitais nas pontas de todos os dedos das mãos.

    2- como já disse, esses lençois vinham de motéis e hospitais japoneses. nos que vinham dos motéis, encontrava-se de tudo no meio: cuecas, calcinhas, jóias, camisinhas (usadas ou não), dildos, chicotes, bolinhas de pompoar, drenos usados pra enemas... certa vez encontrei um belo sapato feminino embolado no lençol, sem o par. dias depois o companheiro de outra maquina encontrou o outro par embolado em outro lençol. não me pergunte como isso aconteceu. sobre os que vinham dos hospitais, chegavam lá todos... hmm... melhor pular essa parte!

    3- me colocaram num alojamento, junto a alguns peruanos, chineses ilegais, e alguns brasileiros fim-de-linha também. o alojamento era uma sequencia de 10 ou 15 quartos de 2mx2m, no andar de cima, e uma enorme sala e cozinha, comunitárias, no andar de baixo. o banheiro logo ao fundo da cozinha, também era comunitário. um só, enorme. aqueles banheiros como dos presidios americanos, 5 ou 6 chuveiros lado a lado, sem box ou divisórias. me sentia em Oz na hora de tomar banho. a cozinha fedia constantemente, em consequência das sopas de cabeça de peixe que os chinas faziam pra combater o frio do rigoroso inverno japonês. duas geladeiras também comunitárias; certo dia fui pegar uma caixa de leite no fundo de uma das geladeiras e ela estava coberta por sangue de peixe. os chinas colocaram cabeças de peixe soltas, sem uma vasilha, no andar da geladeira logo acima da minha caixa de leite...

    4- os companheiros de trabalho, aahhh, essa era a parte terrivel. todos os tipos de "furyos" imaginados, encontrei ali. o chefe da equipe não tinha um braço - nem fiz questão de saber como o perdeu. ele tinha duas filhas beatas com cara das gemeas sinistras do corredor d´O Iluminado. o irmão delas parecia bem normal, até eu observa-lo bebendo uma xícara de café e segurando o pulso firmemente com a outra mão: um tique nervoso o impedia de ter controle sobre a própria mão direita e provavelmente tomaria um banho de café se não o fizesse; uma japonesa completamente maluca comandava outra maquina. esfregava a barriga em circulos com a palma da mão direita constantemente. tinha ataques de histeria se por acaso jogassem a seus pés um chumasso de pelos acumulados de sujeira dos lençois (...!). dentre todos que ali trabalhavam e que até daria pra trocar uma idéia, acreditem, o mais razoavel era um japinha baixinho, se chamava Dana, me lembro. trabalhava o tempo todo, sem parar. eu disse DARIA, se não fosse o caso dele ser SURDO-MUDO.

    essa era a situação que eu me encontrava no dia de natal de 1999, ha exatos 10 anos atrás. nesse dia trabalhei cerca de 13 horas, só parando 40 minutos pra degustar um almoço amargo e completamente desprazeroso, e depois dormir um sono pesado e incomodo na minha caixa de fósforos. deve ter sido o único dia da minha vida que me incomodei por não estar comemorando o maldito espírito de natal. acho que até um mulçumano ia preferir comemorar o natal, nessa situação...

    coisa de 2 dias depois, ao terminar um desses despendiosos dias de trampo semi-escravo, ao chegar no meu quarto pra descansar, levantei uma aba do cobertor que estava com sua ponta encostada no chão e debaixo dele despontou uma aranha enorme em posição ameaçadora, levantando as patas dianteiras indicando um bote venenoso. dei um pulo arremessando chinelo e praguejando os quatro ventos, e o bicho ainda conseguiu escapar de ser esmagado. o problema foi pra dormir aquele dia, sabendo da sua peçonhenta presença rodando meu quarto. no dia seguinte, antes do almoço, um dos brasileiros que constantemente me fornecia comentários inúteis sobre a situação, as pessoas dali e a vida em geral, me soltou a pérola fulminante. chegou em mim sorrateiro, de canto de boca e desconfiado de algo no ar, e me disse: "amigo, ontem me aconteceu algo que tem acontecido com frequencia na últimas semanas: eu vi o diabo..."

    aquilo me bastou pra parar de fazer o que estava me ocupando, me afastar cautelosamente do psicopata e recolher TODAS as minhas coisas, amontoando-as num canto do quarto. comprei um bilhete de trem e fui dormir na casa de um casal de amigos numa cidade ha quilometros dali. no dia seguinte, com a ajuda desse casal, fui até o alojamento com uma van, peguei todas as minhas coisas e mandei enfiar as 2 semanas de salário no rabo de qualquer butyô que passasse por ali naqueles dias. não me lembro de ter feito algo tão certo na minha vida inteira como nesse dia, me dispensando das duas semanas que vivi no inferno shintoísta: depois desse, qualquer outro natal, por mais insípido, odioso e banal por qual eu já tenha passado, foi mamão com açucar.

    esse natal de hoje também não foi as mil maravilhas, mas foi ok. duvido ainda que natal seja relamente uma data prestigiosa. pelo menos as coisas melhoraram pra mim; o ano novo me promete uma caralhada de coisas boas de verdade, a começar pelo reveillon que, me parece, será um dos mais animados dos ultimos anos também. motivos pessoais, claro. o que importa é estar subindo pro topo de forma que quando olhar lá de cima, todo o resto vai ser só soltar o freio de mão que vai descer suave na banguela. ou seja: tomara que todos também tenham um natal melhor que o meu de 1999! saca. e um bom próximo ano também vai bem pra vocês, não precisam agradecer.

    boas entradas, seus putos.


    Em Círculos

  • quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
  • Wash.
  • acordei dum pulo, daqueles que se sente quando está quase dormindo, entrando no primeiro estágio do alfa. o cérebro ativa o stand-by e você sente praticamente a alma levitando, logo acima do corpo. um movimento do mouse e o cérebro sai do entorpecimento, a alma sente se desequilibrar da levitação e cai de volta dentro do invólucro de pele e osso. e então você acorda.

    meio desperto meio confuso, meio sem saber exatamente onde estava, só tive o tempo milimétrico de olhar pela janela do ônibus e sentir o estrondo, a pressão do impacto no vidro. um paralama inteiro entrando pelo horizonte do Interestadual, abrindo caminho para o corpo sólido de ferro que se retorcia a cada resvalo, a cada choque com todo vidro, lataria, poltronas, músculos e ossos que encontrava pela frente. meio minuto antes, o motorista do velho maverick decidira que acabaria com aquilo de uma vez por todas, não importasse como seria, não importasse a quem acertaria para que sua missão tivesse sucesso: na verdade mal pensou nisso, na consequência que seu ato teria para terceiros, já que o ódio dominava completamente seu corpo e espirito. fechou os olhos, girou de uma vez o volante do carro para a esquerda e planou por segundos na encosta da estrada. o desnível da ladeira entre as duas pistas o guiou diretamente na direção da janela do imponente Interestadual, ao qual entre outros passageiros, lá estava eu embarcado. ao final do completo e desolador impacto, abri meus olhos, repletos de vermelho em todas as suas nuances e tonalidades. limpei o liquido viscoso que os cobria. escorria não sei de onde, talvez de mim. ainda turvos, enxergaram a ponta do parachoque à menos de um metro da minha cabeça. o passageiro na poltrona à minha frente não teve a mesma sorte.

    acordei. confuso, mais uma vez. ainda me vi dentro do ônibus, intacto. a estrada seguia calma, sem qualquer sinal iminente de acidente. vidros inteiros, fuselagem impermeável, passageiros dormindo. o passageiro da frente lia um livro, tranquilo, sem sequer um arranhão. demorei cerca de meio minuto pra processar a informação de que aquilo tudo teria sido um sonho - péssimo sonho, diga-se de passagem - mas tudo não passava de uma infeliz ilusão. eu continuava lá, e milagrosamente teria escapado do acidente fatal, por um ato inexplicável o automóvel não me alcançou dentro daquele complexo destino do impacto e... não! ainda estava pensando que teria acontecido! foi tudo tão real! senti cada pedaço de vidro que penetrava meus braços e peito... mas não, agora estou acordado, foi só um sonho. só um bem moldado pesadelo.

    de volta pra casa. recuperado pelo mal-estar daquele pesadelo, me sentia bem ao voltar pra casa. ou pelo menos por um segundo: me lembrei de toda a crise por qual estavamos passando, eu e ela. me lembrei das ultimas semanas, de toda a paranóia que ela fantasiava sobre minhas viagens, sobre todas as mulheres inexistentes que ela criava como minhas amantes a cada cidade por qual passava, uma doença intermitente e cansativa que já vinha se extendendo pelos ultimos cinco anos, desde que realmente nos tornamos íntimos, conviventes, marido e esposa. seus escandalos em locais públicos e confusões alarmantes dentro de nossa casa, já conhecidas por toda a vizinhaça, realmente me deixavam maluco. eu me segurava até além de qualquer limite que eu sonhava que um dia poderia ter. é, eu não me sentia tão bem assim ao voltar pra casa. fato.

    com o paletó debruçado num braço, girei a chave no buraco da fechadura com a mão livre que sobrava. uma xícara pesada, cheia de algum líquido escuro, acertou a parede perto da minha cabeça:

    - como foi com aquela vaca? tava confortável lá no puteiro que vocês arrumaram?...
    - do que você está falando de novo, mulher...
    - você sabe do quê!!! aquela vaca com quem você tem trepado ha meses e meses, você sabe de quem estou falando! ...você é muito dissimulado mesmo... (e mais objetos voavam em minha direção. alguns acertavam o alvo.)
    - de onde você tira essa idéias, pelo amor de deus...??? (e eu só pensava em cigarros, mesmo sem nunca ter fumado)
    - você desliga o telefone! você sempre demora mais do que planeja comigo!! e dessa vez nem se deu ao trabalho de tentar sumir com os pertences dela!: deixou um laço de cabelo dela na pia do banheiro! eu conheço meus laços de cabelo e esse DEFINITIVAMENTE NÃO É MEU!!!
    - Julia, por favor!!! tem áreas no interior que não tem alcance de sinal de celular!!! você sabe disso!! onibus nunca chegam na hora, existe uma coisa chamada TRANSITO! e esse laço de cabelo é da minha irmã, ela esqueceu em casa no fim de semana passado, lembra?? aaahh, saco, Julia!!!
    - impressionante como você encontra explicação pra tudo né...
    - claro que tudo tem explicação!!! se nada que você diz faz sentido, todo o resto tem de ter explicação!! nunca pensou nisso?? você tá me deixando maluco, Julia! maluco!!...
    - pois chega!! chega! não aguento mais isso, de todas essas mulheres! sinto esse cheiro em você, você nunca me enganou, nunca vai me enganar. chega!!

    e chegou mesmo. chegou pra mim. mal consegui deixar minha pasta sobre a mesa de centro da sala, peguei as chaves do carro e sai sem nem pensar no que estava fazendo. quando me dei por mim, já estava na estrada de novo. na estrada. de novo. e o cansaço me impedia de pensar porque tudo que queria era tomar um banho, comer algo, ligar a tv. dormir. cada detalhe do meu inferno pessoal, cada motivo sem fundamento da minha culpa voluntária, tudo isso ia acumulando em pensamentos torturantes, sem sentidos. sem solução aparente. eu a abandonaria. ahh, estava certo disso, eu a deixaria! só assim resolveria essa via crucis auto-imposta. mas não, não poderia: conhecendo-a até o ponto que cheguei, sabia que não seria tão facil: ela não era do tipo que sabe perder. ela alegaria algo, agressão, qualquer coisa que conseguisse convencer uma tribuna sobre seu marido ausente, violento e viciado em algo que eu nunca havia experimentado. isso não teria um fim que apaziguasse minha alma perturbada.

    decidi que acabaria com aquilo de uma vez por todas, não importava como seria. não importava quem acertaria para que minha missão tivesse sucesso: na verdade mal pensei nisso, na consequencia que meu ato teria para terceiros, já que o ódio dominava completamente meu corpo e espirito. fechei os olhos, girei de uma vez o volante do maverick para a esquerda. ele planou por segundos na encosta da estrada. o desnível da ladeira entre as duas pistas me guiou diretamente na direção da janela de um Interestadual que cruzava a estrada no sentido contrario. infeliz coincidencia, justamente no mesmo minuto que decidi meu fim.

    atravessei a janela, cravando o carro no interior do onibus, fundindo os dois corpos metalicos em fumaça e gasolina. não sei exatamente como, quem sabe uma última e fatal alucinação, mas por um momento me vi sentado no banco ao lado onde o carro pousou. e eu me olhava ali, na minha frente, apavorado, como num pesadelo caótico espelhado e coberto de sangue. dizem que é a confusão criada um segundo antes de morrer: um deja-vu na forma de um espelho tri-dimensional, irreconhecivel a si proprio, mas inegável ao aceitar seu destino.

    freestyle #4

  • terça-feira, 17 de novembro de 2009
  • Wash.

  • preciso de alguém que me desafie, alguém que me confronte. preciso de alguém com quem debater, alguém que me apresente fatos e que me faça reforçar meu ponto de vista. preciso de alguém que me deixe ganhar, e assim que eu me sentir vitorioso e confiante, com uma vantagem de 100 cúbitos, que avance sobre mim com voracidade e que me derrote categóricamente, estendido no chão, sem saber se foi talvez um trem que tenha me atropelado. preciso de alguém que me mostre o questionamento mas que não me entregue o significado.



    sobre aulas de "trocas de favores"

  • domingo, 15 de novembro de 2009
  • Wash.
  • não vou nem escrever, só vou botar os links em negrito, você vai entender.


    (informação de terceiras fontes):
    Com US$ 10 mi arrecadados, Madonna deixa o Brasil.


    A visita de Madonna ao Brasil chegou ao fim. A cantora deixou o país na noite deste sábado (14) após uma agitada estadia de cinco dias. Ela saiu do Hotel Fasano, no Rio de Janeiro, por volta das 21h30 e seguiu em um voo com destino a Nova York, nos Estados Unidos. Jesus Luz não acompanhou a namorada.

    Madonna veio ao país para tratar de um programa social que pretende desenvolver no Brasil e para trabalhar em um documentário sobre crianças que mudam de vida por meio da arte. Durante sua passagem, a "Rainha do Pop" se encontrou com políticos e empresários, visitou o morro Santa Marta e passeou pelo Rio e Janeiro. O objetivo era arrecadar US$ 10 milhões (cerca de R$ 17 milhões).

    E ela conseguiu. Depois de obter US$ 3 milhões (cerca de R$ 5 milhões) até quinta-feira (12), Madonna completou o objetivo graças ao empresário Eike Batista. Em um jantar em sua residência, ele doou o restante, levando a cantora às lágrimas. Com certeza a "Diva" deixou o Brasil bem feliz.

    Bem diferente dos dois primeiros dias. De cara amarrada, ela evitou os flashes e não distribui publicamente um único sorriso. Mas com as doações Madonna foi mudando. Subiu, inclusive, o Morro Dona Marta na sexta-feira, ao lado do Governador Sergio Cabral. Bem diferente do que ocorreu na segunda, quando ela cancelou um encontro com o Afroreggae exatamente por ser em uma favela.

    Sempre à tiracolo, Jesus Luz não falou com a imprensa e esteve em quase todos os eventos ao lado da namorada. Ela, inclusive, teria conhecido a mãe do rapaz. Informação que não foi confirmada, mas que poderá ter outra oportunidade: Madonna cantará no Reveillon de 2011 em Copacabana. Palavra do Prefeito Eduardo Paes.

    pronto. agora é só linkar...


    fonte: redação do MSN.com -Entretenimento

    considerações sobre um micro-festival.

  • segunda-feira, 9 de novembro de 2009
  • Wash.
  • dia de festival me lembra muito, mas muito mesmo os anos 90: aquelas tardes quentes, sempre quentes, no Pacaembu ou no Palestra Italia, gente pra caramba, alcool pra caramba, curtição pra caramba, e depois sujeira e cansaço o suficiente pra compensar tudo isso de antes. mas sempre valia a pena. daí aparece oportunidade de fazer tudo de novo e eu ainda acho que pode valer a pena de novo; se bem que não tem tanto alcool e sujeira como antes eu nem me importava, e volto pra casa antes do final do show porque já tou de saco cheio de barulho, com fome, sede... ok, não é a mesma coisa! mas vale a pena, de alguma forma. o som ainda é real.

    cheguei atrasado, sem me importar muito em perder o Deftones. tem músicas como Feiticeira e Passenger que me fazem o gosto... mas não. deixa pra uma outra vez. meu irmão que ficou frustrado com o atraso, ele queria muito ver a trupe chicana do Chino Moreno. fica pra próxima, Uai. mas enfim, chegando na Chacara do Jóquei - visitada 6 meses antes em decorrencia do Radiohead / Kraftwerk / Los Hermanos - ainda com um fio de claridade do sol, encontrando pessoas e amigos, dando risadas e esperando pelo inicio da primeira atração por mim aguardada: Jane´s Addiction.



    JANE'S ADDICTION
    . já começava a pensar se teria sido má idéia ter escolhido o maquinaria ao invés do evento que acontecia paralelo, trazendo nada menos que Sonic Youth, além do Sr. Iguana e seus Stooges apresentando o clássico Raw Power. "ai ai, vão tocar o Raw Power... potz, e com o 'spiel master' Mike Watt, santo protetor dos baixistas, segurando a onda toda dos velhos..." "é!", pensei, "deveria ter ido no outro". e pensei assim até os 45 do segundo tempo, quando o esquálido Perry Farrel aparece no palco e começa a sua série de micagens sob o peso californiano da banda de line up invejável: na guita mandando MUITO, o sex symbol de araque Dave Navarro (me perdoem as senhouritas que lhe pagam uma madeira); Eric Avery no baixo, visu clean de velhão em contraponto com os cabelos multicoloridos do começo da banda, e Stephen Perkins na batera/percussão - e naquele latão caribenho que não sei o nome quando eles tocam Jane Says. instrumental de execução irrefutável. mas pro bem ou pro mal, o destaque mesmo era Farrel: com uma roupitcha que parecia tirada da coleção particular de Clóvis Bornay, mais magrelo do que nunca pesando uns 15 quilos, ele pulava torto pelo palco (e caia, umas 2 ou 3 vezes), e falava com o público como se nada mais tivéssemos a nos preocupar, a não ser nos amar e gozar a vida. doce potente, viu. e suas performances a lá Jaspion, com poses de super heroi tirando onda, isso sim era um espetáculo a parte. hits obscuros dos anos 90 como Mountain Song, Stop e Been Caugh Stealing vieram a calhar, mas em momentos como Ocean Size, Then She Did e principalmente Three Days foi quando me lembrei claramente, cantando junto, que eles eram minha banda preferida DE LONGE no começo dos 90. antes de conhecer Fugazi. mas isso é outra história, forget it. encerrando com a sempre agradável Jane Says, figurei que esse show seria bem mais propício se tivesse acontecido no parque... e em 93. mas até aí já valeu o ingresso. ah sim: e as dançarinas acompanhantes de Perry Farrel... wow! eu digo wow, QUE DANÇARINAS, MAN!!!...



    FAITH NO MORE
    . breve contratempo indigesto no palco do fundo, com Supla destruindo a paciencia de qualquer mortal raciocinante-não-ruminante, e pronto, tava começando o FNM. primeiro som muito propício: o clássico do soul Reunited, de Peaches & Herb. essa é a cara do Faith No More pós funk metal, que pessoalmente me fez gostar mais da banda. essa confusão sonora incompreendida pelos mais ardorosos fãs roqueiros coloca muito mais requinte e finesse na banda, misturando Burt Bacharah, Lalo Schifrin e Commodores com GG Alin e Dead Kennedys, e a partir do disco King for a Day eles souberam desenvolver esse clima com muita desenvoltura. e anos depois de projetos aqui e ali, o FNM ainda estava lá, 2009, com essa mesma desenvoltura adquirida. foi genial. impecável. a sequência de hits dispensam maiores detalhes de relatos, porque acredite, foram muitos e foram impecáveis; Roddy Bottum e Mike Bordim milimétricos. um Billy Gould unstopabble. Jon Hudson na guitarra não deixando nenhum centavo a dever ao genial Jim Martin. e Mike Patton... bom, tudo que se disse, que se diz e que se possa vir a dizer sobre Mike Patton, é verdade e um pouco mais; cativante e versátil, sua voz atinge qualquer patamar de tonalidade: pode cantar suave Beyoncé com a mesma animação, cinismo e facilidade que vomita vociferante sons do Naked City ou Napalm Death, com altura e força fora do comum. fala entreoutras linguas, o português, o que lhe dá um crédito a mais sobre qualquer crooner que cole por essas bandas.

    pra dizer a verdade, dentre os projetos de Patton, o que menos me impressiona é justamente o FNM. numa lista que inclui Fantomas, Pepping Tom, Lovage, Mr Bungle, contribuições significativas a obra de John Zorn, Dillinger Escape Plan, Sepultura, Bjork, Tin Hat Trio entre outros, posso esclarecer sua importancia - ou minha admiração - por uma passagem a qual tive a oportunidade de vê-lo de perto, muito perto; em 2000 vi um show do Fantomas em Shibuya, Japão. antes da banda principal, o duo virtuoso japonês Ruins dichavou maior barulho no pequeno palco do clube. eu, num momento de entretimento assitindo o show, olho pro meu lado e o Patton ali, colado a mim, assistindo também ao show. amarelei, suei frio. olhei mais umas duas vezes e ele me olhou e fez cara de que "a banda estava muito boa", assim, com um sinal da cabeça apontando pro palco. esverdeei. não prestei mais atençao no show, e meio que sai de fininho sem conseguir falar nada, pra ficar boquiaberto depois ao ver o que essa punk metal all-stars nos teria a capacidade de mostrar. ontem ele demonstrou de forma clara e massiva como cativa e intimida uma platéia inteira.


  • domingo, 18 de outubro de 2009
  • Wash.


  • isso é um bagulho absurdo de bom, simplesmente achei que todo mundo que frequenta esse meu "escriturado", ou que um dia o frequentará, necessita de ver esse video ao menos uma vez na vida.

    nota do bastardo - o embate entre Stan Getz e John Coltrane é fuderoso, mas nota como o Coltrane se destaca: nota a postura de encaixe de notas comportadas do Getz, uma ponte que alavanca a próxima nota exata, complascente, aveludada; depois nota a abordagem do Coltrane, entra engolindo tudo, semi-notas dedilhadas muito rapidas, que morrem logo pra dar passagem pras próximas, urgentes, atropelando as que tiverem na frente como num GTA de notas perdidas, tentando usar a maior quantidade delas por centímetro quadrado! holy fuck, man.....

    err... exagerei?

    sobre métodos (excerto #1)

  • quinta-feira, 15 de outubro de 2009
  • Wash.
  • sou metódico, notei isso hoje, sou metódico até com meu jeito de caminhar, veja que coisa. notei que meu imediatismo me impede de fixar o olhar no horizonte, sinto como se mesmo com passos largos nunca alcançaria a distância a se percorrer; horizontes são inalcançáveis. a cabeça levemente reclinada e os olhos buscando o meio metro seguinte funciona muito melhor. você guia os pés em torno de cada imperfeição da calçada, de cada depressão no asfalto, de cada possa dágua estratégicamente colocada como obstáculo. e quando você se dá por si, essa é a melhor parte; quando se dá por si, já chegou!

    compreendo o bem e o mal que isso me faz, mas diabos, as vezes eu preferiria não ser tão centralizado em meu torno quando olho pro resto do micro universo em minha volta: isso soa medieval pra mim. ou pra qualquer outra pessoa que se sinta da mesma forma, acredite.

    o que me conforma é que esse "concebimento" do que há ao meu redor ainda me mantém vivo. vivão e vivendo, tio. não me transformou em estatística ainda. word.

    sobre paternidade e bebedeiras

  • segunda-feira, 28 de setembro de 2009
  • Wash.
  • (comecei a escrever esse texto no dias dos pais, e só consegui terminar agora, quase 2 meses depois: meu computador quebrou e tenho ido pra casa só pra tomar banho e dormir, portanto tendo isso como prólogo, vamos às vias-de-fato da pataquada, digo, do texto)

    ***

    me perguntaram o que eu ganhei no dia dos pais. teve resposta insípida e grosseira: "nada pô... nem pai eu sou! e nem o capricho de ser eu tenho" ...pelo menos até onde eu sei, né. nunca me vieram reclamar paternidade ou pensão ou diabo qualquer relacionado à isso e se existisse, tenha certeza, se existisse essa possibilidade, reclamariam. ahh! reclamariam...

    mas gente!, que mal há ser um adulto em plena crise de meia-idade, sem um futuro reforçado por previdência social, sem um puto no bolso... e sem filhos!! pra outras alternativas sempre existe um motivo, mas pra filhos não??: pros diabos com essa conversinha! não me venha com essa estória "cristã" de que todo homem formado, pra ser homem, precisa de filhos, porra!, que argumento cretino. ideia assim só poderia ter base em dogma religioso mesmo - aliás me tremo pra não entrar nesses assuntos. não preciso ser chamado de "infiel" ou "ateu" sem um argumento mais convincente; haverão oportunidades mais cabíveis, enfim. o caso é que podem até me chamar de egoísta, mas já me basta a minha vida, com qual nem mesmo dela dou conta sozinho, o que me dirá uma criança pra cuidar! além disso, tendo como base a equação simples feita entre a quantidade de pessoas já plantadas no mundo com a possibilidade de agua, comida e emprego pra todo mundo daqui a 30 anos, supostamente quando um filho meu chegaria a idade adulta... bem, olhando por esse ponto de vista eu diria que tenho um problema a menos. resumo o planograma, encerro esse assunto e passo pro outro. fácil assim, passa a régua e fecha a conta.

    sim, lembrei. a coisa estranha que eu vi nesse último dia dos pais foi uma sugestão de presente, não muito ortodoxa: "deixe a casa do seu pai mais aconchegante, dê flores ao seu pai!"; olha só, não que eu seja um modelo de humanóide preconceituoso, cheio de rancor e hostilidade no coração. sim, um pouco eu tenho, confesso! mas não vem ao caso; o que diria meu pai, por exemplo, se eu viesse até ele com um ramalhete de flores? diria conclusivamente o seguinte: "mas que diabo é isso? é pra sua mãe? o que você supõe que eu deva fazer com isso? colocar num vaso na minha mesa no escritório?...". bom, a resposta dele seria convincente. uma garrafa de whisky ou um livro de fisica mecânica seria muito mais útil pra ele. pra mim também. não o livro de fisica: só a garrafa de whisky.

    alias esse negócio de beber demais tá ficando sinistro pra mim. não sei bem se voltar a vida de solteiro tem à ver com o fato, mas minha cota de alcool semanal tem aumentado consideravelmente: agora faz parte da minha rotina levar 3 latas de cerveja e um pacote de Doritos pra casa, todo santo dia, depois do trabalho. uma dose de vodca com soda também faz parte, esporádicamente. juro que nunca fui assim! quanto aos fins de semana então, nem sei se é digno de relatos...

    não que eu tenha um passado à niveis de Henry Chinaski, e apesar de alguns ainda me conhecerem como bebassa, poucos tiraram a prova de até onde eu poderia chegar na depreciação da imagem humana, como um verme jogado na calçada com cachorros lambendo a boca espumosa. algumas poucas vezes bebi o suficiente pra não me lembrar do aconteceu no dia anterior, ou de chegar ao ponto grotesto de gorfar no colo de alguma garota, isso nunca! - (quase) nunca vomito, coisa que me beneficia enquanto "bebedor inveterado" (meu deus...). mas enfim, já que comecei nesse assunto, vamos enfeitar um pouco em torno; meu primeiro copo americano cheio de cerveja eu bebi, creio eu, com uns 4 anos de idade. todo o crédito da iniciação vai pro meu grande (finado) tio Sebastião. um bom bebedor, que ao lado do meu pai, e para o terror das esposas, adoravam ver os filhos pirralhos entornando um copão de cerveja, só pra ver a merda feita depois: criança trançando as pernas, caindo à toa, dando risada de formiguinha andando no azulejo da cozinha... e dormindo rapido, claro, criança que dorme não enche o saco de adulto. de repente era uma boa ideia. mas, com um resultado tenebroso, deu no que deu: já cresci com gosto pro alcool.

    a evolução dessa situação criada na tenra idade da inocência obviamente não poderia ser diferente: ainda jovenzinho tive hepatite contagiosa, o que me proibe de certa forma a ingerir quantidades categóricas de alcool. agora me pergunta: você pensa que isso altera alguma coisa? e complementa: você pensa que isso vai dar num bom resultado num futuro proximo? bom, eu diria que apesar de não possuir uma aparente tendencia à auto-destrução, mesmo assim não penso no futuro como deveria pensar. ando com essa meia impressão de "Lobo da Estepe" ultimamente, sabe. não que eu esteja predizendo sobre o que pode vir à acontecer, mas afinal uma hora dessas nós todos morreremos mesmo! e apesar disso eu tenho a impressão que ainda me resta alguns milhares de copos de cerveja e umas centenas de garrafas de vodca pra consumir, até a hora chegar.

    de resultado mesmo, só me resta saber quem vai pro chão primeiro: eu ou minha dignidade.

    lavador de pratos #1

  • quinta-feira, 27 de agosto de 2009
  • Wash.
  • e o lavador de pratos voltava para casa, cabisbaixo, cansado de mais um desses dias transbordantes de intolerância sobre aquele trabalho de futuros incertos. "que diabos eu estava pensando quando eu disse "olá"?, ele dizia pra si mesmo, enquanto repaginava mentalmente suas fotos mais especiais, e se colocava por detrás das lentes, como um narrador em terceira pessoa, pra tentar lembrar melhor o que o fotógrafo em questão via ali, naquele momento único, e se fazia parecer com um espião, um intruso de seu próprio passado.

    uma coisa o incomodava sobre as fotografias: se colocando em seu lugar, no lugar adequado como o figurante-foco da foto, ele nunca se lembrava de como foi parar lá, naquele lugar. e não se lembrava de como estava a pessoa que apertava o botão da câmera, e nem dos diálogos estabelecidos naquele momento: era como se parte da sua alma tivesse sido roubada, de fato, naquele exato momento do clique, como nas antigas estórias indígenas.

    e o lavador de pratos chega em sua casa, ali entre os cortiços abandonados e as calçadas podres. esgotado. milhares de pensamentos se interpelando uns aos outros. mas um se sobressaía: "que diabos eu estava pensando quando eu disse "adeus"? e nesse momento ele tinha dois semblantes: um externo, inexpressivo, indiferente de tudo que o rodeia, e um interno, agonizante, aquela sensação de quem fez uma puta cagada, algo irreversível, imutável. incurável. preparou a comida do gato e uma refeição pra si, tragada e embolada sobre uma garrafa de cerveja. saiu na porta da cozinha e sentou no degrau, desconsolado, acendendo um cigarro.

    então ouviu um sibilo vindo das sombras detrás da caçamba de lixo, um grunhido alongado, feito um imenso e orgânico arroto seco. levantou intrigado, curioso feito seu gato em ambiente estrangeiro a si, e se aproximou da caçamba. da escuridão se escancara a mandibula préistorica de um crocodilo imenso de 3 ou 4 metros de fuça à rabo, o abocanha e engole inteiro o lavador de pratos, inerte a qualquer reação. se arrasta de volta para as sombras, mudo, mimetizando a escuridão, como se não tivesse saído de lá. como se nunca estivesse lá.

    sobre quizes do Facebook (ou Thomas Pynchon) (ou Tristan Reveur)

  • quinta-feira, 13 de agosto de 2009
  • Wash.
  • óbviamente você já deve ter feito um desses "quiz" do Facebook. pois bem, minha singela opinião, se é que ela vale de algo (e nesse momento vale!) : a maioria são imbecis, são uma grandississima perca de tempo, alguns são bem barangos mesmo... mas a merda é VICIANTE!!! alguns pouco são geniais, principalmente pra gente aficcionada em Top Lists, como eu sempre fui, desde pequeno. assim que aprendi a escrever, uma das primeiras coisas que fiz foi começar a relacionar todos os Top Lists que eu tinha em mente, uma coisa assim bem de "criança com TOC", coisas inúteis como as maravilhas da antiguidade, tudores da Inglaterra, programas de tv, musicas de rádio, comediantes, atores, músicos, bebidas, mesinhas de ferro de buteco... qualquer merda. mas enfim, voltando ao Facebook, eu acabei que preenchi, entre outros quizes, um que dizia "Qual Escritor Maluco Você É?"; o resultado foi Thomas Pynchon. curioso ter dado esse resultado porque uns dias antes eu estava fuçando informações justamente sobre esse cara: um pirado recluso, desde 1950 ninguém sabe exatamente como é sua cara, a não ser seu editor. odeia repórteres, entrevistas... qualquer coisa que coloque um dedinho em sua privacidade (no pum intended) o cara surta e desaparece! da mesma laia de gente como JD Sallinger ou o nosso "vampiro de curitiba" Dalton Trevisan. mais um detalhe pra adicionar a personalidade perturbada do fita: só escreve sobre conspirações e relações auspiciosas sem um fio aparente que as ligue. contracultura, pop art, drogas e rock'n roll também fazem parte do cardápio do sr. Pynchon "freak blood sucker" ou o que quer que ele seja. isso tudo foi motivo de sobra pra que eu procurasse com afinco um livro dele. minha intensão era encontrar "O Arco Iris da Gravidade", mas "V" foi o que eu encontrei primeiro. comprei, comecei a ler. até o exato momento não tô entendendo PORRA NINHUMA... mas vamos esperar até o final e eu falo o que acontece. (se eu entender, claro).

    Nesses mesmos dias de paralelos coincidentes (tem a ver, pode crer!) aconteceu-me de rever um filme que há uns meses atrás me passou completamente desapercebido, simplesmente não me chamou a atenção, sei lá porque. o filme era "Stay", que pra variar recebeu o nome suecado de "A Passagem". nem comento. enfim, tem no cast Ryan Gossling, Ewan McGregor e aquela loirinha, err... Naomi Campbell, essa ae!

    vá lá, dessa vez eu tava mais relax e dei mais atenção pra trama. de primeira mão, parece só mais um draminha bobo: um psicólogo tentando ajudar seu paciente, um candidato à suicida que tem até data marcada para o evento, e blablabla e coisa e tal, e vai o doutor tentar convencê-lo à não levar a promessa à cabo, e blablabla e coisa e tal. mas com devida atenção, a estória se revela muito mais que isso. revela um garoto reservado, intrigante e auto-destrutivo, que consegue manipular dèja-vus!! (sei lá como ele faz isso). o desenvolvimento disso meio que transforma a realidade do psicólogo num vai-e-vêm de dèja-vus, num misto de confusão de identidade e sonho de noite mal-dormida. se falar mais, estraga.

    a parte que me interessa segue meio por fora disso; em certa parte do filme, o psicólogo descobre que o garoto frequenta uma livraria onde, de acordo com o livreiro, ele teria trocado algumas pinturas de sua autoria por um punhado de livros, todos do mesmo autor: Tristan Reveur. Você já ouviu falar em Tristan Reveur? então. no decorrer do filme não se toca muito mais no nome desse cara, daí eu fiquei em casa pensando "tristan reveur, tristan reveur... quem foi esse cara que eu nunca ouvi falar, diabos??"

    internet serve pra essas coisas de curiosos-nerds-atormentados que não se seguram à uma nova informação, têm que saber, PRECISA saber do que se trata. é uma compulsão, eu concordo, mas isso já livrou minha cara em provas sobre assuntos da atualidade e desenvolvimento de conversas de mesa de bar com gente que eu acabara de conhecer, entende?... no fim, tem a sua utilidade. então era um fato novo que eu não sabia nada sobre o cara. corre pra internet e já bota lá no campo de busca do Google, Tristan Reveur.

    eis que pra minha surpresa, as informações que se tem sobre esse cara... não existem! tristan reveur foi um escritor influente e famosíssimo... inventado pro filme. e eu adoro essas coisas! é legal ser categóricamente enganado! no bom sentido, é claro. sim, existe um bom sentido em ser enganado: ser passado de trouxa, corneado, roubado, isso não é legal. mas algo que, de certa forma, te faz acreditar numa coisa que não existe? isso é fato de ser aplaudido de pé, eu penso. o lance da Bruxa de Blair, poxa, eu sei que aquilo é malhado, ficou demodé... mas quando o filme saiu, botaram maior pilha de que os acontecimentos realmente haviam acontecido, inclusive firmando credibilidade com o fato dos atores do filme simplesmente SUMIREM dos avant-premiéres e entrevistas de lançamento. na época eu achei genial; técnica de marketing inovadora. agora eu acho interessante.

    hmm, é isso. Thomas Pynchon pra Stay pra Tristan Reveur pra Bruxa de Blair pra nada mais. se isso fosse um exercício de aula de redação, o tema seria: "transite de um tema para outro de forma desordenada, afm de deixar o leitor sem entender o que vc quer dizer..."

    sobre assuntos que não conseguiremos entender nunca.

  • sexta-feira, 7 de agosto de 2009
  • Wash.
  • hoje, não por acaso, tive o insight de pensar que a vida é como um relógio. não um relógio qualquer. um bem específico; um relógio de pulso que em 1945 foi encontrado em Hiroshima e que marcava, congelado, a hora 15h39: hora exata que a bomba caiu no epicentro da explosão. momento fotográfico, 70 mil vidas ceifadas instantaneamente. claro, isso é muito mais significante do que se imagina, mais significante do que até onde vão nossos motivos obsoletos. mas pensa bem: um relógio, apenas um relógio, representando toda a razão por trás disso, cada vida e cada motivo de viver, tudo representado num momento fixo do tempo. e lá se foram todos os detalhes de 70 mil vidas pela razão equivalente de apenas um punhado de interesses politicos: a complexidade da estória toda mora aí.

    complexidade, ahhh! a complexidade! já tem um tempo que eu venho notando um fato pitoresco na minha vida - ou na vida dos outros, você decide: (quase) todas as pessoas que me cercam, de certa forma, sibilam entre a genialidade e algum disturbio emocional ou mental. a escolha é minha, óbvio, mas as caracteristicas são marcantes: manias, paranóia, TOC, depressão, sindrome do pânico: parece que é uma REGRA contra a vida comum, contra a vida ordinária: se quer ir contra a maré, ok!... mas não vai sair ileso!! essa é a condição. essa é a lei gravitacional. é o preço que se paga por ser diferente. é a controversia da vida social instituida. é o reverso do conformismo estipulado.

    eu me firmei, com auto-votação unanime, entenda, como integrante de uma geração inteira que PRECISA de um disturbio pra poder viver na sociedade EM PAZ consigo mesmo. é inevitável e faz parte de todo um ciclo de evolução involuntária, o mesmo ciclo iniciado há seculos atrás, por Galeno, procurando uma "alma orgânica" no que ele inconscientemente chamou de Retemirabile; uma idéia que mais tarde foi depurada por Descartes, depois exaltada por Nietsche, depois decomposta por Dostoyevski, depois desmistificada por Sartre... e depois massificada, estereotipada e banalizada por... nós!, a massa moderna que PENSA que sabe tudo.

    eu faço parte disso. veja bem: hoje pensei muito sobre cada motivo que me leva a tomar cada decisão do dia-a-dia. pensei sobre cada decisão tomada e sobre cada consequência exercida por essas pequenas decisões. pensei muito, mas muito mesmo, sobre a idéia formada que tenho sobre o mundo em que vivo, de como ele foi um dia, e sobre como ele poderá vir a ser, num futuro incerto. pensei também sobre o que o cara que voava no Enola Gay sentiu quando soltou a bomba sobre Hiroshima. e pra variar, eu sempre penso em filmes: pensei num filme que eu vi, um tempo atrás, na tv mesmo, chamado In the Edge, que conta a estória de um cara que rouba um carro e se joga de um precipicio com ele, basicamente pra "ver qual é", e mais tarde, sendo forçado a integrar um "grupo terapeutico de suicidas", percebe o que rola de verdade - DE VERDADE - nesse mundo: em SEU mundo, no mundo que ele inevitavelmente foi inserido. o resultado é triste, mas é, como a proposta mesmo diz, inevitável. porém ainda é esperançosamente reversível.

    me peguei, enfim, pensando que todos estamos sujeitos à essa intempérie da evolução. eu, que perco meu tempo falando sobre o que não sei direito. você, que ocasionalmente perdeu seu tempo lendo isso. ele, que teve o impulso de cometer o que teve vontade.
    e no fim, não tive coragem de recriminar ninguém. afinal, quem foi Galeno? quem foi Descartes? quem foi Nietsche, Froyd, Hesse, Sartre?... ora! quem sou EU, pra julgar os motivos de cada um?...


    (in memorian ao bom amigo Marco "jegão")

    e mais uma temporada de bloqueio...

  • sábado, 1 de agosto de 2009
  • Wash.
  • "só trabalho sem diversão faz de Jack um bobalhão."
    "só trabalho sem diversão faz de Jack um bobalhão."
    "só trabalho sem diversão faz de Jack um bobalhão."
    "só trabalho sem diversão faz de Jack um bobalhão."
    "só trabalho sem diversão faz de Jack um bobalhão."
    "só trabalho sem diversão faz de Jack um bobalhão."
    "só trabalho sem diversão faz de Jack um bobalhão."
    "só trabalho sem diversão faz de Jack um bobalhão."



    seria uma boa ir pra um hotel, em pleno vigor do inverno e no meio do nada, pra aparecer um pouco de inspiração??... acho que não precisa tanto, né: bastaria ir até um Starbucks com meu laptop debaixo do braço, sentar numa mesa isolada e pedir um expresso grande, pra poder ficar toda hora misturando com leite de graça e com o açucar aromatizado de baunilha. é, funcionaria de certo. se a bateria do meu laptop ainda funcionasse, com certeza eu faria isso. saco de bateria viciada...

    da série "bandas que não merecem o esquecimento": Drive Like Jehu

  • terça-feira, 14 de julho de 2009
  • Wash.

  • às vezes me empolgo um pouco com certa banda quando começo a ouvi-la constantemente. com o Drive Like Jehu é um pouco diferente: eu me empolgo SEMPRE que eu volto à ouvi-los. deixo-os um tempo de lado, mas depois, quando coloco pra ouvir de novo, eu penso "mas que carajo de banda genial essa: entra banda e sai banda do meu ouvido e o Drive Like Jehu continua me surpreendendo toda vez que boto seus discos nos meus headphones..."

    a genialidade dessa banda foi, como sua efêmera duração, curta e grossa. e infelizmente foi pouco compreendida por publico e crítica. digamos que referência - isso pode parecer cretino, mas é verdade - tem um papel fundamental no sucesso de uma banda: sem entender as tendências pra onde o som moderno discorre, sem essa referência, a midia especializada fica perdida. a identidade de uma boa banda pode ser, dessa forma, mastigada e descartada. destruida. todos eles, sim, compreendiam que os Jehu eram geniais, visionários, a frente de seu tempo, mas por falta de referência maior classificavam seu som como um dos pontos de partida do chamado emocore. Drive Like Jehu não é emo: fato. e tenho quase certeza que foi isso que afastou o publico que buscava o emocore e que afungentou o publico sem maiores pretensões a não ser a busca por novas sonoridades. isso destruiu a credibilidade sonora da banda. resumindo sem ser especifico: em dados momentos soavam como uma banda desert tipo Kyuss ou Fu Manchu, com uma veia punk na praia Greg Ginn / Die Kreuzen, e com resquícios de grunge a lá Tad / Green River. ok, hoje em dia eu consigo definir isso. mas e quando eles começaram a tocar, no começo dos anos 90, quem se arriscaria a lançar esses palpites??...

    o que seria o som do Drive Like Jehu então? analises, vamos lá. 1- construções enormes e disconexas, mudanças bruscas de andamento, dissonância constante usando as pontes do braço e da entrada das cordas da guitarra, como em O' Pencil Sharp, Good Luck in Jail, Luau. 2- os vocais estranhos de Rick Froberg, finos, anasalados, que variavam horas em berros ensurdecedores, hora melodias muito bem encaixadas (talvez as partes que levam as pessoas a relacionar DLJ com emo...), hora uma voz de chicano mole e preguiçosa, muito particular dele, que denuncia sua presença em qualquer outra banda que cante. às vezes usava essas três modalidades em uma só musica, como em If it Kills You, Hand Over Fist, ou na genial, clássica, obra-prima Do You Compute. 3- tempos muito quebrados, confusos, uma lógica que parecia só deles; esse último detalhe nos leva a crer e os aproxima muito mais de um outro termo criado dentro do som moderno: o math rock. as linhas de guitarra e baixo são muito marcantes, mas obviamente quem guia toda a construção fica a crédito da bateria de Mark Trombino. isso é bem claro em musicas como Turn it Off, e confirmado como embrião do math rock a introdução de New Math (que por curiosa coincidência tem uma certa semelhança com New Noise do Refused...), onde guitarra e baixo param justamente em pontos não especificados na construção, a não ser pela vontade própria da bateria; não existe lógica nesse tempo reproduzido, apesar de ser uma sequencia básica de 3 acordes sabbathianos. conclusão: adiantados, foram incompreendidos.

    as guitarras de John Reis, aka Speedo, sempre merecem destaque. esse é outro que nem precisa abrir a boca pra se notar sua presença numa banda: os timbres da guitarra e acordes são muito caracteristicos seus. a fórmula desconstrutiva de seus arranjos se prolongou por um tempo pelo caminho do Rocket From The Crypt, que posteriormente foi ficando mais cru e urgente, mas ainda assim de timbres reconheciveis. aliás RFTC, banda que, pelo sucesso alcançado, foi a provável causa do fim do Drive Like Jehu. em outro caso qualquer eu diria que foi um tremendo desperdicio de potencial; mas do RFTC simplesmente não dá pra dizer isso, como eu anteriormente já demonstrei, mea culpa, aqui nesse blog.

    presente: a curtíssima e influente discografia do Drive Like Jehu, que inclui 2 discos:


    (drive like jehu)

    (yank crime)

    ah, sim, detalhe para o pitoresco nome da banda. ri muito quando soube o porquê desse nome estranho, DRIVE LIKE JEHU: meu amigo Pedro Carvalho havia me comentado algo sobre esse cara bíblico e doido varrido que tinha esse nome; fucei bem fuçadinho e vi que era mais ou menos isso mesmo: Jehu era um general que virou rei de Israel lá por 800 a.C., que dirigia violentamente sua carruagem feito louco pelas ruas. drive like jehu. dirigindo como um doido: nome genial, não podia ser melhor. descobri que referências de estórias bíblicas bizarras e escrotas sempre saem coisas boas. as músicas dos Pixies, Violent Femmes e Bad Brains que o digam.

    ***

    e atenção para a noticia extraordinária que recebi de última hora!!: o astro do pop Michael Jackson morreu, faleceu, foi dessa pra melhor... o quê?... heim?... já fazem umas 2 semanas?? sério?... nossa. que coisa.

    sobre a obrigatoriedade de um manual para uso correto do cérebro.

  • segunda-feira, 6 de julho de 2009
  • Wash.


  • as letras estão muito pequenas e tá com o modo "bad english" ligado, né. ok, eu traduzo, porque merece ser lido:


    eu não poderia trazer uma criança a um mundo que não tem mais Michael Jackson?

    "meu marido e eu estamos tentando engravidar há 2 anos e finalmente conseguimos desde semana passada. mas agora eu tenho me sentido tão triste sobre a perda de michael jackson que tenho até pensado que não posso trazer uma criança a esse mundo. meu marido diz que me entende e me apoia mas eu não creio que ele me compreenda inteiramente. eu quero abortar. quero abortar agora mesmo porque michael jackson morreu. devo contar ao meu marido sobre isso? eu não quero parecer louca. ele me apoiará?"


    sei lá, viu. às vezes, quando vejo coisas assim, tenho certeza que a humanidade não tem salvação. e com certeza merece tudo de mal que lhe acontecer. acho coerente que a mulher tenha opção sob seu corpo. acho coerente o sexo (seguro) por diversão. e até certo ponto acho coerente que se coloque crianças no mundo - desde que se tenha certeza que você não causará um (grande) estrago na vida dela e ela não interfira negativamente na vida de outras pessoas, o que reduz as opções em pelo menos 90%... mas enfim, sinceramente, uma pessoa descerebrada que diz coisas como essa não merecia viver em convivência com a sociedade, muito menos com os animais. isso é demonstração de desvio social tão grave quanto o de um esquartejador compulsivo. e de modo algum, uma pessoa assim merecia - e nem deveria - se reproduzir. o seu deus é injusto, reconheça!

    ahhh, se houvessem métodos cirurgicos de aborto cerebral... hmm, peraí: lobotomia ainda é usada?...

    sobre fazer algo útil.

  • quinta-feira, 2 de julho de 2009
  • Wash.
  • vou transformar isso aqui em algo de utilidade pública, ao menos uma vez na vida né:

    as duas sobrinhas de uma grande amiga minha foram diagnosticadas com uma doença rara chamada Niemann-Pick C. é uma doença genética-hereditária de disfunção nucleo-celular e degenerativa de orgãos vitais como fígado, baço e cerebral, o que consequentemente afeta gravemente a coordenação motora e o condicionamento fisico do paciente. a dificuldade da sua detecção prematura é um dos piores fatores para as familias e até para a comunidade médica: ela se manifesta na infância até os 15 anos e seus sintomas se confundem muito a outras doenças mais comuns como - e tão graves quanto - alzheimer e parkinson, além do que até o momento não existe uma cura específica, existe só um tratamento de reversão e amenizador da doença, com medicamentos mais usados em outras doenças. esses medicamentos, por lidarem com função celular e ainda estarem em fase de testes, são muito caros - uma caixa chega a custar em torno de 15 a 20 mil reais. a Secretária da Saúde tem projetos de distibuição desses medicamentos importados e caros assim, gratuitamente, para as familias das pessoas diagnosticadas; mas a burocracia em torno da importação e prestação de contas a União dificultam e atrasam os processos por meses e meses, fazendo com que o processo de reversão da doença piore nos pacientes. conheça detalhes da doença, como e de forma ela se manifesta, e como são os processos para adquirir os medicamentos nessa pagina construida pelos familiares dos enfermos:

    se você que acompanha as inutilidades que eu escrevo aqui e me acha um cara legal, leve em conta que eu raramente escrevo assuntos sérios aqui e tenta dar uma força da forma que puder: se você é advogado, juiz ou médico, ou tem algum amigo ou parente que seja, e estiver afim de dar uma força, entre em contato com os familiares pelo endereço nesse blog ae. com certeza qualquer ajuda será bem vinda e eternamente grata, ok people??

    domo arigatôu gozaimashitá.

    sobre ...o que mesmo?

  • domingo, 28 de junho de 2009
  • Wash.
  • fico meio consternado, sinceramente, ao ter que parafrasear Renato Russo pra poder dizer algo que sinto; tem Drummond, Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues, tem Fernando Bonassi, Hilda Hilst, Ferreira Gullar, tem Arnaldo Jabor... (não, Arnaldo Jabor não...) enfim, tem tanta gente interessante pra citar, e eu invento de citar logo o Renato Russo (sic). cretino da minha parte, eu sei. de qualquer forma a citação não é 100% de autoria dele, já que isso provavelmente deriva de alguns ditos populares, o que faz sentir-me à vontade ao cair no domínio público. a idéia é a seguinte:

    "o erro de ser barco à motor e insistir em usar os remos é tão imbecil quanto o mal que a água faz quando se afoga,e o salva-vidas não está lá, só porque não queremos ver..."

    curioso que isso serviu como uma luva pra mim, nesse exato momento. como uma luva!! posso anexar isso também aos verbetes "dar murro em ponta de faca" e "bater na mesma tecla", entre outros que não me recordo agora.

    se você não me entendeu, não faz mal. de qualquer forma tudo bem. um dia eu aprendo. enquanto isso é melhor se divertir, porque arrancar as calças e sapatear em cima não vai resolver nada, néisso parceiro?? my manta ray is allright!! deixa o relógio correr até o gongo soar! ou então a gente vai pra lona no nocaute mesmo. deixa a porrada comer.

    odeio falar por falar, mas ahhhh, que saudade de Barcelona! ...felizes são os peixes de lá. (isso é citação de quem mesmo?)

    sobre o nível de cretinice na criação publicitária local...

  • quarta-feira, 24 de junho de 2009
  • Wash.
  • propaganda no SBT de um toque de celular que chama pelo seu nome por uma voz pré-gravada; me imagino dias depois de ter trabalhado numa equipe de criação dessas:

    oi, meu nome é joão, eu trabalhava numa equipe de criação tão cretina, que na sua última cartada contra o bom gosto da massa, criou um djingle para toque de celular em que uma voz masculina cantarolava "maria / te ligam / maria / atende" e vice-versa com uma voz feminina para o equivalente másculo, e no momento em que apresentavam esse projeto eu cai no chão em gargalhadas resfolegantes a ponto de meus colegas de trabalho imaginarem que eu estava tendo um ataque cardíaco. fui demitido por isso. amigos: eu sou um sarcástico anônimo. (mesmo que eu acredite que sou apenas meio grau acima do nível...)

    sobre comédia de erros

  • Wash.
  • cara, tô chocado com essa estória que acabei de ver na tv - não vou falar da tv de quanto ela é manipuladora de informações etc e tal, sou viciado em tv, então já tenho "discernimento" (palavra efêmera) do que tou falando "enquanto um ser viciado, eeentendeu"... , e se um dia eu tiver culhões de enfrentar os meus vicios eu escrevo algo sobre isso aqui nesse catzo, enfim, tava vendo o jornal e falaram dessa estória do empresário de Jandira que foi categoricamente sequestrado por uns caras muito profissas e descoberto depois de investigações que era uma funcionária dele que passava todas as coordenadas de como deveria ser a parada...!!! bicho, deveras sério aqui: eu pensava que essas sequências de erro locas só aconteciam nos filmes dos irmãos Coen.... hairy, man!... hairy situation...

    sobre a duvida

  • quarta-feira, 17 de junho de 2009
  • Wash.
  • onde estava o amor, quando a cabeça do Batista foi servida numa bandeja de prata, ao bel-prazer de uma amante acostumada aos mimos de um rei?

    e onde estava o amor quando os cavalos foram atirados ao mar para aliviar a carga dos navios, e deixados à deriva, à mercê das aguas frias e aos dentes afiados dos tubarões?

    e quando o anjo decidiu ser mortal pelo amor de uma trapezista, e a trapezista partia pro mundo dele num estranho ato de vingança divina, onde estava o amor?

    e onde estava o amor quando o monge calmamente se sentava no pavimento e embebia o corpo com gasolina pra no momento seguinte, atear fogo em si mesmo?

    isso me ocorreu, como sempre, andando pela rua e observando as pessoas, ouvindo Jeff Buckley a berrar, numa busca desesperada, numa súplica irrefutável: "What is love? Where is happiness? What is a life? (...) Tell me where is the love in what your prophet has said?"

    pois é. eu também queria saber.

    e enquanto a resposta definitiva não vêm, eu fico com a minha: "o amor está nos olhos do peixe fisgado pela isca que o encanta hipnotizado, sem saber do anzol que o espera."

    da série "bandas que não merecem o esquecimento": Steel Pole Bath Tub

  • sexta-feira, 12 de junho de 2009
  • Wash.
  • Steel Pole Bath Tub

    minhas raízes - as musicais e sonoras, vamos deixar isso bem claro - ainda estão bem presas aos anos 90. de fato grande parte do que é produzido hoje no rock, digamos 50%, vêm dos anos 90. outros grandes bocados vêm dos anos 60 e 70, uma pequena faixa aproveitável dos 80, sem contar a face punk/hardcore fundamental, e sobra um restinho de lixo do novo milenio, bem restinho mesmo; nem é ranço de velho punk, é que as bandas não são mais como antigamente mesmo, não tem jeito... certo, já estou me estendendo demais de novo... pegando o fio da meada: anos 90.

    atualmente o que é utilizado dos 90 é uma parcela que caiu no gosto popular: a nata do grunge, investidas hard rock metal a lá Sad But True, as bandas que baixaram a afinação pra (num engano patético) ficarem mais pesadas... mas a coisa fina, a finesse dos 90 mesmo, simplesmente foi descartada, esquecida; fico embasbacado da TANTA coisa que não é nem citada como influencia, nem a minima referência que seja, que deglutiram a melhor coisa que os anos 60, 70 e 80 lhes deram, e inovaram nos 90 pra simplesmente dar um passo a frente. sim, eles deram um passo a frente. nos anos 90. e hoje, o que aconteceu? a sequência de raciocinio diz que nós, no sec. 21, aproveitamos o que eles deixaram e demos o próximo passo, certo? errado: o som parou lá, a verdadeira inovação dos 90 ficaram por lá mesmo, praticamente. se levarmos em conta das bandas que aproveitaram o fino dos 90 no som de hoje em dia, dá pra contar nos dedos da mão. do Lula. se tratando do panorama gringo então, indie ou mainstream, acredite se quiser, acho que tá pior do que o nosso rock brazuca atual... fato.

    minha tarefa aqui - ahh como eu sou grandioso..... NOT! - minha tarefa aqui é resgatar algumas bandas que deveriam estar no verdadeiro hall of fame do rock, e inseri-las nos corações e mentes de toda uma nova geração! que nobre missão, não?... ou pelo menos de quem estiver interessado, já seria um começo. e eu começo por um trio de Montana chamado Steel Pole Bath Tub. ou Steelpole Bathtub. ou SPBT, se for preguiçoso pra escrever.

    não faço ideia de como é a cena do rock alternativo em Montana, mas não deveria ser das mais animadas, já que os amigos Mike Morasky (guitarra e vocal) e Dale Flattum (baixo e vocal) arrumaram suas malas e foram pra San Francisco ver se encontravam coisa melhor. não antes de dar uma passadinha em Seattle, a Seattle do inicio do grunge, a Seattle SubPop, só pra sacar o cualé do som. aproveitaram pra recolher o batera Darren Mor-X, completando o trio. que eu saiba essa foi a formação da banda desde seu nascimento em 88, até os conturbados encerramentos em 2002, em tretas contra executivos da Slash; aliás a tipica luta surgida com o advento instantâneo do Nirvana como sucesso comercial da Geração X: conflitos entre processos criativos e direitos autorais foi o que levou 6 de cada 10 bandas boas dessa época a desistirem. o próprio Cobain surtou por esse mesmo motivo, uma provável causa de sua morte. fora a vaca com quem ele casou, claro.

    o som dos "canos de banheiro"?... verdade, ainda nem falei do som. bom, o que posso dizer é... dificil de dizer! a base é punk: rude e barulhento. o som tem parentesco em grau proximo com Ministry e Unsane, basicamente são irmãos gêmeos dos Melvins respingando ácido do Velvet Underground, no peso e na intensidade, nos vocais com dentes trancados de raiva, no prolongamento de notas que só causam confusão de direção... e repleto de colagens de sons retirados da tv, gritos, sirenes, bombas, explosões. caos. desordem. um "28 dias depois" sonoro. um "11 de setembro" mental.

    teve uma época que eu estava tão viciado nessa pegada de som do estilo Steel Pole Bath Tub e similares, que eu procurava qualquer coisa deles como um garimpeiro atrás do diamante azul. uma vez, quando morava no Nihon, nas minhas longas andanças de bike pelas cidades vizinhas, pedalei cerca de 12 kilometros de Ooarai até Hitachi por um cd do SPBT, que eu tinha vasculhado e encontrado num sebo, em outra ocasião. aproveitei uma rusga com a patroa e fui até a cidadezinha, torcendo pro cd ainda estar lá. estava. foi um belo rolé, pra mim que nem sou "O" esportista foi um rolazasso! mas valeu cada pedalada. se bem que o rasgo foi pior ainda depois que cheguei em casa...(sic). mesmo assim valeu a pena.

    creio que não tem musica certa pra citar, pra dizer o que a banda foi. mas o primeiro eu que ouvi dos SPBT foi o single de Bozeman (nome da cidade natal deles em Montana). comprei um singlezinho em alguma loja perdida da galeria, por 3 reais, me lembro bem. no fim da música eu estava de boca aberta pelo caos e causticidade do bagulho. de boca aberta, queixo no chão. era tudo e era nada. era a destruição pela bomba e a poeira assentando. o single ainda incluia os sons Borstal e Arizona Garbage Truck, e até hoje são as minhas três preferidas deles. um clássico do genero, se é que tem genero. se não tem, é compreensivel: eles o criaram e o mantiveram pra si mesmo.

    http://steelpolebathtub.com/
    http://en.wikipedia.org/wiki/Steel_Pole_Bath_Tub

    de presente, a discografia do SPBT - ahh: 90% dela, vai... aproveitem bem essa iguaria sonora porque é dificil pra caralho de achar por aí: eu mesmo devo ter levado uns 4 meses pra recolher tudo, e sei que falta coisa...

    1988 - First Tape
    1988 - We Own Dddrills
    1989 - Butterfly Love
    1990 - Lurch
    1991 - Tulip
    1991 - Tumor Circus
    1993 - The Miracle of Sound in Motion

    freestyle #3

  • terça-feira, 26 de maio de 2009
  • Wash.
  • me acorde antes que eu adormeça
    antes que eu perca a parte importante da estória
    antes que eu não saiba continuar de onde ela parou
    que tudo o que foi dito antes seja desmentido
    seja desmedido, descabido
    desproporcional em relação ao real
    e inevitável

    me acorde antes que eu adormeça
    antes que eu seja o que nunca fui
    antes que eu comece a agir como nunca agi
    e que eu me vicie nessa droga que me guia
    pelo caminho errado
    apesar de ter o caminho certo bem à minha frente
    bem claro, com placa indicando "POR AQUI"

    me acorde antes que eu adormeça
    antes que eu pegue no sono
    aquele sono zumbificado
    aquele que se sente levitar e de repente cair
    e se a queda for bem maior do que parecia
    me acorde antes de chegar ao chão
    antes de atingir com a cara no concreto

    me acorde antes que eu adormeça
    antes que me faça parar de respirar
    com o peso dos poltergeists sentados sobre meu peito
    me acorde antes que atinja essa situação que cria
    uma disposição mental para ataques de panico
    me acorde dum pulo sobre meu barco
    e nessa hora eu serei Ahab contra a grande baleia branca

    e foi então que ela me acordou
    e foi só então que o sono veio
    e tive que desistir do dia.
    uma cochilada urgente, apressada
    com os olhos entreabertos
    e estaria preparado para meu destino
    com todo aquele gelo lá fora, à minha espera.



    hmm... acho que vou transformar isso numa letra de música, ou coisa parecida...

    sobre a boa e velha irresponsabilidade.

  • segunda-feira, 25 de maio de 2009
  • Wash.
  • de um modo geral, a musica do Nirvana foi feita pra quem tem merda na cabeça. uhum! e ao contrario do que possa parecer, isso não é uma ofensa pra quem gosta de Nirvana e você vai entender do que estou falando.

    veja bem: não sei como essas coisas acontecem, sinceramente eu ainda não saquei como a massa cinzenta funciona; às vezes a gente tá com a cabeça limpa dos problemas e correrias e dá lugar pra descanso, essas coisas, sudoku, cavaleiros que dizem NI, receitas de caipirinha, Bob Esponja, movimentação membranosa dos ligamentos do joelho de um cavalo, o diabo!... e lembranças. e dai bem nessa hora tava passando um vídeo do Nirvana, aquele da musica Sliver, você deve saber qual. e de repente me lembrei de como é a cabeça de um garoto de 17 anos que não tem nada importante pra pensar a não ser em garotas e guitarras e carros, e baladas e festas e butecos, e ir pra escola, o que não causa esforço nenhum já que voce sabe o que fazer na escola e ainda vai encontrar os camaradas e as garotas por lá. e liberdade plena, a primeira que se sente, a de pensar livre, sem ninguém no controle além de voce mesmo. e sentir o poder nas mãos, e o poder que te dá um som assim, o que vc sentiu as primeiras vezes que vc ouviu esse som; então você vê que, 17 anos depois dos 17anos, muita coisa muda.

    a unica coisa negativa desse aspecto todo é que o tempo vai ficando cada vez mais escasso, só preocupações e contas e correria. e esse tipo de pensamento, de lembrança, vai ficando cada dia mais distante da sua vida real e atual. ou não. talvez uma hora essas lembranças estarão se aproximando da vida de novo. talvez quando eu for um velho cagalhão de frauda geriátrica, sem cabelos e sem dentes pra me preocupar, alzheimer surgindo ali na próxima esquina quando você se perde na quadra da sua casa, e então, só então, minha cabeça volte a se preocupar com os acordes de Sliver de novo, e talvez fazer esse som ficar importante, ressonante e poderoso no meu peito de novo.

    e em pleno dia do orgulho nerd, veja você, quem tá certo é o Milo Aukerman cantando "i don't wanna grow up".

    Top 5 Albuns, parte 3 (bônus)

  • sexta-feira, 22 de maio de 2009
  • Wash.
  • complementando o post anterior, tem essa estorinha incrivel sobre a versão do Steve Albini pra esse cd, In On the Killtaker, que é assim: o Albini, da banda Shellac, é exemplar engenheiro de estudio que ainda hoje usa técnicas rudimentares pra extrair o som mais cru e poderoso de uma banda, além do seu já renomado mau humor e acidez ao atacar bandas que nós, reles mortais, julgamos divinas; entre elas, ele metia o pau no Fugazi, dizendo que eram uma ótima banda no palco, mas seus discos eram uma merda desperdiçada; na época da entrevista Albini deixou claro que era sua vontade produzir um disco do Fugazi.

    e de fato esse evento aconteceu. logo após tal entrevista de Albini, MacKaye e seus companheiros se propuseram a "testar" o poderio de fogo do astuto nerd de estudio: foram pra Chicago gravar uma demo com as novas músicas, o que viria a ser o In On the Killtaker. ouviram suas opiniões, gravaram, mixaram. e no caminho de volta para Washington, ouvindo o cd na van, desistiram da idéia: chegando em casa regravaram tudo de novo com Ted Niceley, seu produtor de costume. as más linguas disseram que eles "jogaram" o cd pela janela da van, na volta pra casa. mas essa parte era mentira, porque anos depois o cd apareceu em sites de peer-to-peer de mp3. e pra quem ficou curioso pra ouvir essa versão albinesca do Killtaker, taí de presente:




    não sei. talvez porque a produção da demo do Albini não foi terminada, mas pessoalmente eu prefiro a versão Ted Niceley, a do cd mesmo: com muitos detalhes notáveis, o som mais limpo, com algo de etéreo em algumas partes dos vocais provocados pela dobra infestada de reverb, os caóticos prolongamentos finais de 23 Beats Off; o fato é que Albini tentou arrancar um som bruto, seco e violento, com a cara das bandas de Chicago caracteristicas nos selos Touch and Go e Amphetamine Reptile como o Slint, o Tar, o Jesus Lizard e o Trenchmouth; isso não é a cara do Fugazi. já uma outra banda de Washington, o Jawbox pegou a essência do Fugazi e mixou com a crueza e a síncope dodecafônica das bandas de Chicago, e teve resultado primordial... mas isso já é outra estória.

    Top 5 Albuns "Fuckin' Ever", parte 3

  • quarta-feira, 20 de maio de 2009
  • Wash.
  • parte 3: Fugazi - In On the Kiltaker



    posso dizer que confundo Fugazi com a minha própria estória dentro do que engloba o punk e o hardcore; assim como outras boas bandas, o Fugazi me chegou por programas de radio bem especificos no começo dos anos 90, quando se tinha o habito de encontrar coisa boa numa dial, como eu já disse em algum texto aqui antes. bastaram algumas faixas do Repeater, na época de seu lançamento, e essas musicas mudaram definitivamente TODOS os meus pontos de vista dentro do rock; até então nunca havia ouvido algo tão genial, pelo menos na minha compreensão de genialidade musical, que unisse o criativo, o harmonizado e o visceral numa unica banda. creio que muita gente aqui pode compreender perfeitamente sobre o que eu falo, enfim. de qualquer forma, é dificil pra mim falar racionalmente sobre fugazi sem deixar aparentar toda minha admiração pelo que esses caras fizeram, principalmente pela contribuição que deram na sonorização do que viria a ser o punk inteligente dos anos 90 em diante, isso sem falar no aspecto "politizado" que eles tambem inseriram: tiraram um pouco da irresponsabilidade cretina que pairava feito névoa sobre o rock, e sobrava no punk, pra dar lugar à sobriedade de se fazer musica inteligente nas harmonias, nas letras metaforicas e subjetivas, e na raiva que transpunha incontida no poder da voz e na distorção da guitarra, alem de vender a musica de uma forma global e pela primeira vez REALMENTE independente, o que foi de fato inovador dentro do mercado mainstream fonografico, e genial dentro do mercado paralelo indie; arrisco a dizer que se não fosse pelo empurrão inicial do Fugazi e da Dischord, muita coisa do que temos facilidade (mercadologicamente falando) hoje ainda não seria possivel.

    mas não é pra isso que eu quero falar de fugazi: é sobre a genialidade musical de MacKaye e Picciotto, e porque não dizer os Lennon e MacCartney do post-hardcore!...

    anyway, acompanhei o Fugazi no inicio do seu despertar como banda inovadora, no Repeater. posteriormente procurei o que mais eles tinham feito, e descobri o 13 Songs, que unia os dois primeiros EPs. achei incrivelmente sagaz, linhas de baixo e bateria incriveis, frases de guitarra marcantes, um encontro do punk e o melhor que a musica pop podia proporcionar. mas ainda o Repeater era um passo a frente. no Repeater eles conseguiam enfiar no combo, além do punk e do pop, boas doses de reggae e jazz nas levadas, entremeio de guitarras caóticas thurstonianas e as vezes secas como Gang of Four. a massa tava pronta: só bastou pros caras modelarem o que tinham criado. e a cada disco, se notava um passo a frente.

    o proximo foi Steady Diet of Nothing. continuava a ascensão de criatividade, com guitarras mas sincopadas e menos poderosas, marcando tempo, e baixo e bateria guiando as direções principais. alias isso faz o Fugazi um grupo genial também porque deixa cada membro da banda solto, dá liberdade pra qualquer um dos quatro CRIAR a direção desejada, e não exatamente as guitarras ou a voz.

    então eu estava com um grupo de amigos quando um deles chegou dizendo que tinha pedido pelo correio o Steady Diet e mandaram em vez disso um novo, inedito, saido do forno aquele momento: o disco se chamava In On the Killtaker. quando peguei meu exemplar e coloquei pra tocar, a primeira faixa revelava ter O RIFF DE GUITARRA MAIS PODEROSO já feito, aqueles que vão enchendo seus ouvidos e serrando seus punhos, aqueles que te dão uma vontade de sair quebrando tudo que se vê pelo caminho, na sua ira teenager sem causa exata. Facet Squared é o som que define a minha geração: urgente e desnorteada, usa o velho pra fazer o moderno, usa a raiva pra fazer funcionar a cabeça.

    as 11 musicas em sequência vão destruindo qualquer possibilidade de resposta antecipada, de pensar que o que vêm em seguida voce já ouviu antes, e de pensar que a sua banda pode fazer melhor. porque não pode. a urgência de musicas como Public Witness Program , Smallpox Champion e Great Cop não te dão tempo de pensar no que aconteceu: são rolos compressores feitos de camadas de guitarra e bateria e berros e palavras que chocam. é a partir desse disco também que o Fugazi começa a demonstrar mais semelhanças com bandas noise experimental, como o Sonic Youth. os timbres de guitarra de Rend it, 23 Beats Off e Walken's Syndrome são muito tensos e desfocados, exatamente como os novaiorquinos citados adoram fazer.

    os detalhes e ruidos são trabalhados de forma primorosa, a modo de fazer sentido a cada inserção, a cada pausa, em Cassavetes (homenagem ao grande diretor, quem vem da mesma escola ideológica anti-mainstream) e na obra prima Instrument. enfim o disco é fechado com uma das mais belas canções que o quarteto já criou: Last Chance for a Slow Dance, com uma guitarra ciclica eterna e um baixo que molda as oito frações rodopiantes de cada refrão; eu adorava ouvir essa musica num velho aparelho que eu tinha, que simulava um karaokê, mas na verdade ele decompunha o canal da voz no cd. e acho que essa musica foi gravada com um segundo vocal colado, com muito reverb, e que o aparelho não distinguia.. então o efeito de que o Piccioto estava num banheiro a dezenas de metros distantes soava incrivelmente maravilhoso.

    depois desse disco, o Fugazi continuou inovando, se superando. mudando pontos de vista dentro do rock. Red Medicine, End Hits e Argument são uma sucessão de progressões do estagio avançado do punk rock, em harmonias e ideias: é o que o free jazz representou para o ragtime no jazz. Mas In On the Killtaker ainda é insuperável pra mim: ele definiu o perfil que eu queria seguir como musico e compositor, algo que com o tempo mudou um pouco e continua, mas ainda assim esse disco é o meu alicerce se tratando de inovar a música sem perder o fio da meada do punk hardcore.

    thanks aos rapazes e garotas do blog Less Talk, More Rock, de onde eu "roubei" o link, e de onde tem muito mais além desse que vos trago. enjoy.

    sobre piadas que só tem graça pra nerds...

  • sexta-feira, 15 de maio de 2009
  • Wash.
  • tava fuçando numa montanha de lixos aqui que eu guardo, revirando uns papéis velhos, e encontrei um mail antigo enviado por um amigo. era uma piada culta, bem estilo humor ingles, Monty Python, daquelas que só nerds riem, sabe?: a piada é a mais sem graça do mundo - por que o frango atravessa a estrada? - respondida por personalidades históricas, filósofos, etc... bom, vou repostar ela aqui; é o tipo de piada que merece ser sempre repostada, não ficar perdida na imensidão do caos da internet pra sempre.



    POR QUE O FRANGO CRUZOU A ESTRADA?

    ARISTÓTELES: é da natureza dos frangos cruzar a estrada.

    PLATÃO: porque procurava alcançar o bem.

    NELSON RODRIGUES: porque viu sua cunhada, uma galinha de meia idade, sedutora, do outro lado da estrada.

    MARX: o atual estagio das forças produtivas exigia uma nova classe de frangos, capazes de cruzar a estrada.

    MAQUIAVEL: o frangou cruzou a estrada. a quem importa o porquê? estabelecido o fim de cruzar a estrada, é irrelevante discutir os meios que utilizou pra isso.

    MOISES: uma voz vinda do céu bradou ao frango: "CRUZA A ESTRADA!" e o frango cruzou a estrada, e todos se regozijaram.

    HIPÓCRATES: devido a um excesso de humores em seu pâncreas.

    MARTIN LUTHER KING: eu tive um sonho. vi um mundo no qual todos os frangos serão livres para cruzar a estrada sem que sejam questionados seus motivos.

    FREUD: a preocupação com o fato de o frango ter cruzado a estrada é um sintoma de sua insegurança sexual intimamente ligado à sua mãe...

    DARWIN: ao longo de grandes períodos de tempo, os frangos tem sido selecionados naturalmente, de modo que, agora, eles tem uma predisposição genética a cruzar estradas.

    EINSTEIN: o frango cruzou a estrada ou a estrada se moveu sob o frango? ...depende do ponto de vista. Tudo é relativo!

    KANT: o frango seguiu apenas o imperativo categórico próprio dos frangos. é uma questão de razão prática.

    ORWELL: para fugir da ditadura dos porcos.

    HEMINGWAY: "to die. alone. in the rain."

    SARTRE: trata-se de mera faticidade. a existência do frango está em sua liberdade de cruzar a estrada.

    CHE: "hay que cruzar la carretera, pero sin jamás perder lá ternura."

    PINOCHET: "el se fué... pero tengo muchos penachos de el en mi mano!..."

    NIETZSCHE: ele deseja superar sua condição de frango, para tornar-se um superfrango.

    BLAISE PASCAL: quem sabe? o coração do frango tem razões que a propria razão desconhece.

    CLARICE LISPECTOR: a essencia do frango está nas suas patas. as patas têm o frango. quem vê as patas, vê o frango. a essencia das patas é correr, o correr abstrato. a estrada é a essencia de correr. quem vê o correr vê a estrada.

    MACHADO DE ASSIS: quem sabe se o frango realmente cruzou a estrada, se era a sua intensão cruza-la? quem saberá, baseado naqueles olhos de frango dissimulado...?

    SÓCRATES: tudo que sei é que nada sei.

    PARMÊNIDES: o frango não atravessou a estrada porque não podia mover-se. o movimento não existe.

    ESTÓICOS: o frango atravessou a estrada porque esse é um acontecimento necessário. é o destino: já estava previsto pela ordem universal do cosmos.

    FILOSOFOS MEDIEVAIS: para responder a tal questão, devemos primeiro deliberar se a expressão "frango" é puro termo esvaziado de sentido ou se a palavra expressa a ideia genérica e universal de frango, ou ainda se no caso se trata de um frango concreto em particular.

    FILOSOFOS DA ESCOLA DE FRANKFURT: é uma questão em que se manifesta o carater alienado da industria cultural, que tranformou a imagem do frango num mero produto para consumo em massa.

    KATHLEEN HANNA E FEMINISTAS: para humilhar a franga, num gesto exibicionista tipicamente machista, tentando além disso convence-la que, enquanto franga, jamais terá habilidade suficiente para cruzar a estrada.

    GILBERTO GIL: essa coisa de frango que atravessa algo nos remete à questão do almoço dominical que mainha me preparava na minha infância. tem algo a ver com a baianidade da menina malemolente atrás do frango. por outro lado essa coisa de estrada é de uma anterioridade que se firmou numa canção que fiz com o Caê, na casa de Pepeu, no Pelô...

    CAETANO VELOSO: o frango é amaro, é lindo, uma coisa assim amara. ele atravessou, atravessa e atravessará a estrada porque Narciso, filho de Canô, quisera come-lo... ou não!

    CARLINHOS BROWN: abluééé-skindô-skindô-ilayê-ubaba-bruitaquandôsindeayêêê.... POMBO.

    LULA (FASE PRÉ-PRESIDÊNCIA): o frango estava fugindo porque o governo deixa o povo passar fome. o que o companheiro frango fez foi exercer o direito que todo cidadão tem de ir atrás da comida!

    LULA (FASE GOVERNAMENTAL): quem disse que o frango estava fugindo? ninguem disse isso! o frango só estava fazendo a parte dele, como cidadão! não é necessario abrir nenhuma CPI pra isso!

    JO SOARES: sem querer te interromper e já te interrompendo, você não acha que um frango ao molho pardo é uma delicia que engorda?

    MALUF: não tenho nada a ver com isso, e não tenho nenhuma conta nas ilhas Cayman.

    SURFISTA: o bicho atravessou, cara... foi pá-pum, e tava lá, do outro lado... bem assim, manja? bicho maneiro, velho, aí. demais, aí...

    HEDONISTAS: é prazeroso ao frango atravessar estradas. o que voce acha, amigo?...

    FUNCIONARIO PUBLICO: não sei, porque o chefe não tá aqui agora. mas o senhor preenche estes cinco formulários, duas vias do branco e tres do rosa, paga a taxa no Banco do Brasil e daqui a dois meses passa por aqui pra pegar a resposta...

    sobre o Coldplay aplicando a lei de Lavoisier

  • sábado, 9 de maio de 2009
  • Wash.
  • achei engraçada uma noticia que vi hoje:

    "COLDPLAY ACUSADO DE PLAGIO PELA SEGUNDA VEZ DA MESMA MUSICA"
    O músico Yusuf Islam , antes conhecido como Cat Stevens e que mudou seu nome quando se converteu ao islamismo, acusou a banda Coldplay de ter plagiado uma composição sua, "Foreigner Suite", para criar o hit "Viva la Vida", informou o site NME. O guitarrista Joe Satriani já havia acusado o grupo britânico plágio pela mesma canção. Ele apontou muitas semelhanças entre "Viva la Vida" e "If I Could Fly", de sua autoria.

    do meu ponto de vista falando como musico amador que sou, eu diria: QUEM MANDA SER MUSICO MEDIOCRE que faz canção pop de quatro acordes mastigadissimos, do começo ao fim, alterando uma ou outra linha de voz só pra dar uma tapeadinha no corpo geral???... na boa, quando a banda já solta de cara, no primeiro cd, um puta hit pop como Yellow, ou ela já para por aí, ou ela vai ter que se mostrar de valor mesmo pra continuar compondo; inova, recria (não copia), inventa. se os caras se sentirem pressionados pra fazer mais hits, fudeu...

    dai aparece uns caras que se acostumam a ganhar rios de dinheiro com musica, como esses aí, e ficam tentando emplacar qualquer porcaria só pra não ter que parar com certas mordomias a que estão acostumados. dá nisso: vira musico MEDIOCRE e compõe qualquer merda de quatro andamentos que se parece com qualquer coisa. e o problema nem é a limitação dos acordes, porque com menos que isso, com TRES acordes por musica, os Ramones fizeram uns 20 discos sem ninguem acusa-los de plagio, e ainda hoje são considerados originais as fuck e criadores de um estilo. chupa essa manga, coldplay...

    sobre Ballard

  • segunda-feira, 20 de abril de 2009
  • Wash.

  • Crash, de J. G. Ballard, não é um livro escrito por um pervertido sexual. Ballard desdobra o não-mocismo americano por meio de um grupo de pessoas aficcionadas em ossos quebrados, sangue, esperma e ferro retorcido, uma sociedade mutilada pela produção massificada e pelo caos do trafego descontrolado, sempre querendo atingir o climax da tecnologia numa ideia de sociedade robotizada sexualmente desumanizada.

    exatos dez dias que eu postei isso no meu fotolog e o Ballard bateu as botas. cancer de prostata. o que prova que a mente de Ballard não era tão pervertida assim, a ponto de escrever os absurdos de Crash mas não querer levar uma dedada básica pra diagnosticar o maleficio...
  • domingo, 19 de abril de 2009
  • Wash.
  • esses dias atrás eu achei um conto da Clarisse Lispector que li ha alguns anos e que fazia tempo que não lia, e que me encantou de novo da mesma forma que me encantou da primeira vez que o li. Enfim, queria arrumar uma boa desculpa pra posta-lo aqui pra que as pessoas que fuçam aqui também pudesse le-lo, e queria dizer que é sobre a inveja, sobre egoismo, sobre uma certa maldadezinha infantil ou sobre vingança... mas pra que? nem tou interessado em passar nada disso pra ninguem, nem me sinto prejudicado por ninguem; a verdade é que o conto é bom, o jeito que ela escreve é muito convincente e detalhista e inspirador (a analise do texto poderia ser muito mais eloquente do que "convincente, detalhista e inspirador"... mas é melhor tirar suas proprias conclusões) e eu queria posta-lo aqui e pronto, só isso, fim de papo. taí o conto da Clarisse Lispector:



    Felicidade Clandestina
    Clarice Lispector

    (O Primeiro Beijo
    São Paulo, Ed. Ática, 1996)


    Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

    Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".

    Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.

    Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.

    Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

    Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

    No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

    Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.

    E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

    Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

    Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

    E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

    Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

    Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

    Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.

    Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.