sobre a Academia Brasileira de Letras (ou sobre o que você deve fazer com a sua vida é problema só seu)

  • segunda-feira, 22 de março de 2010
  • Wash.
  • ahhhh! Simpsons e South Park!: as verdadeiras - e talvez únicas - mentes pensantes da televisão estadunidense! sou fã confesso dessas pérolas da tv exatamente por episódios como esses dois aqui. e de fato você verá, assim que assisti-los, que não os reuni à toa: foi pensando na Academia Brasileira de Letras. (heim???...) é sério! de início vai parecer que não tem nada a ver, mas eu faço as co-relações e passo de um assunto pra outro, você vai sacar: "a nossa violênça têm um porquê".

    ***

    em feveiro de 2010, mais conhecido como "mês passado", a academia perdeu um de seus membros, José Mindlin. não teve obras de suma importância, mas ok, foi um colecionador e apaixonado pela "nossa" língua portuguesa. vá lá, fez assim valer sua presença numa das cadeiras. o tio passou, agora tem uma cadeira sobrando. tendo como base certos nomes que ocupam alguns dos assentos da associação hoje em dia - Paulo Coelho, Ivo Pitanguy, José Sarney, Marco Maciel (sic...), pensa comigo: o que esperar das próximas candidaturas a ocupar o lugar do próspero velhinho? e você, que é estudante das origens e do bom uso desse idioma recorrente, ou inclusive você, que USA esse idioma diariamente pra comer, viver, trabalhar, se comunicar, me responda: OnDjI eH Ki IsSu VaI pArAr, MiGuXxXo?!?!...

    fazendo uma rápida - nem precisa ser detalhada - pesquisa em livrarias ou locais gerais onde vendem livros, qualquer um vai sacar que os items mais vendidos são sempre de alguns mesmos autores: Augusto Cury, Zibia Gasparetto, Gustavo Cerbasi: livros de auto-ajuda!, meu deus, brasileiros são viciados em livros de auto-ajuda! é isso que as pessoas lêem hoje em dia!, tá entendendo onde eu quero chegar?: palestras sobre relações interpessoais carregadas de metáforas e parábolas, frases de efeito, palavras de apoio reflexivas: piadas prontas com a inteligência em construção. (taí uma boa frase de efeito!: por favor senhores escritores, que tal encaixar isso no prefácio dos seus geniais guias práticos da "VIDA: como vivê-la"???...)

    tenho pra mim uma tradução pessoal do termo auto-ajuda: "escolha imposta". essas palestras que os patrões pagam pequenas fortunas pra "incentivar seus funcionários", cheios de boas intenções - satã agradece. trocando em miúdos, é um método suave e indolor de controle de personalidade em massa, passiva à nova ordem mundial globalizada: palestra de auto-ajuda é visar lucro amansando o "gado", camaradas bolcheviques!!!

    anyway, esses dois episódios de Simpsons e South Park eu coloquei aqui pra servir de exemplo prático sobre o que eu to falando. o primeiro trabalha mais com a lógica de uma situação: "faça somente o que tem vontade"; não é um conselho de nenhum gênio, todo mundo anseia em poder fazer só o que tem vontade, isso é uma sequência óbvia pra onde vai caminhando o rumo da sua vida! porém o imbecil que receita essa "fórmula genial" pra massa de Springfield se esquece de dois fatores importantíssimos: as possibilidades - intelectual e financeira - que a população possui pra realizar tal feito. se tratando da comunidade caricata de Springfield (que não isenta verdade no conceito de cultura de massa, inclusive da nossa), daí se tem idéia do tamanho da merda que pode gerar um conselho troncho saido da boca de qualquer idiota que pensa que sabe mais do que qualquer um.



    além desse capitulo dos Simpsons, dá pra citar mais alguns exemplos de como a "auto-ajuda" pode ser convertida facilmente em "auto-destruição" da natureza humana:

    - no filme Réquiem for a Dream, de Darren Aronofsky, um dos personagens, uma senhora dona de casa recebe um convite (não se sabe bem se ela realmente recebe o convite) pra comparecer à uma plateia de algum programa televisivo de auto-ajuda. ela resolve usar um belo vestido vermelho de sua juventude, mas seu corpo ficou desprevilegiado pela idade. resolve assim procurar um médico, indulgente, que lhe receita uma sequência de barbitúricos e anfetaminas pra que ela consiga o feito de entrar no vestido. ela entra. ahh, entra...

    - outra película americana, Magnólia de P.T. Anderson, serve bem pro caso: o personagem de Tom Cruise é um idolo palestrante que tem uma função curiosa: ele ENSINA homens sexualmente inibidos e frustrados a serem devoradores de mulheres, verdadeiros caçadores nas noites dos pubs e boates; o grande problema é que ele se preocupa tanto em parecer o melhor, que apaga da memória os problemas de familia que teve quando adolescente, e tem que enfrenta-los todos de uma vez, da maneira mais dolorosa, no leito de morte do pai canceroso.

    -bom, vou poupar comentários sobre como programas de auditórios dominicais e esses programas observatórios de convivio social, BBBs e afins, todos esses exemplos de repetição subliminar de mensagens como causadores de passivamento social condicionado: todo mundo já sabe disso, né. (será??... qual é a audiencia do BBB mesmo?...)



    o segundo episódio é bem mais ácido. é South Park, poh!: se não for cáustico e politicamente incorreto, não é South Park! é óbvio e dispensa comentários: o ataque vêm no setor espiritual. é. aquele que muita gente ainda acha que pra viver melhor é necessário venerar um ser maior, onipotente, onisciente, onipresente. ou um idiota qualquer que diz ter a palavra da verdade... poh, é foda: eu sei, eu me seguro, eu me desvio, eu evito ao máááximo tocar nesse assunto, mas ocasiões se fazem necessárias. eu gostaria de não ter que dizer que nenhum homem e nenhum deus vai te ensinar como você deve viver sua vida, que não vão te ensinar o que é a verdade, o que é a mentira, o que é certo ou errado. não gostaria de ter que dizer que você já nasceu sabendo, é só desenvolver o lado que te interessa mais. eu gostaria de não ter que dizer que nenhum deus vai te punir se você se masturbar, ou se você escolher não procriar, ou se você não venerar nem ter medo de algo que você nunca viu e nem sabe bem se existe ou não. eu gostaria de não ter que dizer pra você que não adianta bater na sua esposa e no seu filho, ou atropelar um cachorro só pelo gosto de ver o bicho estrebuchar, ou se você torturar e matar alguém, e depois pensar que estará salvo e LIMPO dos seus erros ao pedir perdão na igreja pra algo que não decide por seus atos e julgamentos nesse planeta.

    eu gostaria de não dizer nada disso.
    mas eu digo.

    ***

    ah sim! sobre a votação da ABL! o que vai?: Augusto Cury, Zibia Gasparetto ou Cerbasi?
    eu voto em voltar a falar tupi.

    sobre a insignificância da grandiosidade

  • terça-feira, 9 de março de 2010
  • Wash.
  • conforme fatos e acontecimentos vão se precedendo, com o tempo fica cada vez mais claro, ao que parece, que são nos momentos mais cretinos que se têm os melhores insights.

    tava lá eu de novo no meu ostracismo, assistindo tv. mudo de canal, paro numa matéria de jornal sobre deficientes fisicos e soluções práticas, e algumas fisioterapeutas de atividades ocupacionais tiveram uma ideia absurdamente simples: dobrando alguns ferrinhos maleáveis, facilitam e aliviam a vida de quem tem que desenvolver os afazeres do dia-a-dia, mas não possuem a praticidade que a maioria das pessoas possuem pra realiza-las. ferrinhos maleáveis, vejam só... agora eu fico pensando em teses, palestras, teorias, a busca clinica profissional por soluções, a ciencia mais moderna e milimetricamente exata sendo utilizada... e vai lá uma estudande observadora, entorta uns ferrinhos e voilá!!... resolve os problemas de meio mundo!

    não estou reclamando da ciência e da tecnologia, nem cabe a mim essa prerrogativa, já que é de minha crença que graças à evolução da ciência, da medicina, da filosofia iluminista, ao pensamento moderrrno enfim, que nosso mundo "civilizado" não é mais controlado pela fé e pela religião. ou pelo menos uma parte dele. uns 35% dele, vai...! mas de fato essa não é a questão, e pra isso nem vou me estender: o caso é que as pessoas - eu, você, enfim, as pessoas - tem a péssima mania de complicar o descomplicado, de não enxergar soluções simples, de não enxergar simplicidade no complexo enrosco de teorias, fobias, regras, direitos e deveres, hierarquias e taboos, que criamos para convivermos com o minimo de descência que a racionalidade - e a consequente consciência de ser racional - nos cobra. é tudo tão complicado que se esquece do que é simples.

    e sobra para a comunidade cientifica, com toda sua grandiosidade e eloquência, adicionar silenciosamente esses pequenos detalhes, disfarçadamente, como se eles sempre existissem, como se eles estivessem ali desde o inicio de tudo e de repente a ciência se faz dizer "aah! pode crer! então! eu já sabia! só não queria dizer...", e se recolher em sua ineficácia e insignificância, tendo que engolir um sapo-boi sem nenhum cafézinho pra ajudar a descer, exatamente por não prestar a atenção nos pequenos detalhes. knowledge is the true punk way-of-life, pessoas.

    ok, então eu mudo de canal e tá passando o programa do Datena. eu deixo lá: quem sabe me ocorre outro insight, né...