sobre koans

  • sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
  • Wash.
  • a vida é uma coisa doida mesmo.

    não tenho outra palavra pra definir a vida. é uma coisa doida, pronto. quando eu penso que estou entendendo, que estou sacando tudo o que acontece ao meu redor... bum! tudo entra em colapso, em contradição.
    koans. só aparecem koans: o que diferencia a natureza humana da personalidade individual e coletiva? a inteligencia é uma dádiva divina, ou um acidente de percurso genético? pra que serve a VIDA, no sentido existencial da palavra? qual a diferença do SER e do NADA mesmo, sr. Sartre??....

    esses pensamentos batem na cabeça quando acontece algo doido na minha vida. e sempre me bate essas coisas. sempre me acontecem coisas doidas na vida. com muita frequência, você não faz idéia. quando me meto à besta de contar relatos de coisas que acontecem comigo, as pessoas ficam realmente extasiadas. de verdade, com sinceridade! quer ver um exemplo?...

    hoje foi a TERCEIRA VEZ na minha vida que tive uma arma apontada pra minha cara. eu disse a terceira! não foi a primeira vez, nem a segunda. você pode dizer que a pessoa está numa situação overreacted pelo susto, já que milhares de jovens passam por isso todos os dias nas periferias do Brasil, Mexico, França, Soweto... pode até ser. mas de qualquer forma é uma experiência única e pessoal. além disso quantos vivem pra contar? eu. e por 3 vezes, contando com hoje.

    a primeira vez foi na zona leste de são paulo, saindo de uma festa com amigos e uns "função" vieram tomar um de nós. uma jaqueta, bem juvenil, bem hypada. garotos adoram essas coisas, sejam ricos ou pobres. e todos querem ter, sejam quais forem os meios necessários pra isso. eu tinha uns 18 anos, tava bêbado que nem uma porca, e quis trocar ideia com o ladrão pra entender PORQUÊ ELE TAVA ROUBANDO MEU CAMARADA!!! pode dizer... é MUITA cabassisse querer trocar ideia com ladrão, eu sei. só lembro que olhei pra frente e os cano já estavam na minha cara, sem salvação, eu pronto pra ser fuzilado. meu salvador foi o dono da festa, um local respeitado, que entrou na frente na hora final e rolou a ideia, de ladrão pra ladrão. sindicalizado. daí os mano me pediram até perdão, não sabiam que eu era amigo do fulano. a primeira coisa nesse desfecho se chama "ter contatos". e a segunda se chama "nascer de novo".

    a segunda vez que me aconteceu foi num coletivo. voltando com os amigos de um ensaio pra casa, um maluco pula a catraca do cobrador e se aproxima de nós, olhando fixo. ele pediu o boné e nós levantamos todos, quase automaticamente, numa atitude agressiva; "não se ligou não, maluco?? isso é um assalto!", ele disse, enquanto o amigo lá na frente esvaziava a caixa do cobrador. o comparsa vendo que cercamos o maluco, por sua vez, saca o cano e começa a gritar "vou soltar! vou soltar!"... e é acalmado pelo nosso confrontante. "calma, num solta não", ele disse. "os caras nem tavam ligados"... ainda teve consciência pra fazer isso (consciência??...)

    a terceira vez foi hoje. assaltam a loja que eu trabalho com dois ferros cromadinhos, tinindo. levam todos pra tesouraria e lá vai: "abre esse cofre, malandro!!"... você sabe do resto da estória. ou pelo menos já ouviu muitas delas, nessa cidade caótica. e é arma passeando pra lá e pra cá, passando na frente da sua cabeça, dos outros, soltando a trava... por sorte tudo acaba bem e os vida loka saem vazado com o que querem, sem machucar ninguém. depois do choque, depois de pensar que você não vai ver mais as pessoas que ama incondicionalmente, sua vida tá ali, restaurada de novo, sem nenhum arranhão. e tudo fica mais lento, dá tempo pra vc parar e pensar de novo, e de novo, e de novo... os koans vindo um atrás do outro na cabeça.

    a vida é uma coisa doida. pra que servem essas coisas? pra me lembrar que eu sempre tenho mais uma chance? intervenção divina? mas se fosse, porque eu, uma pessoa normal, tive a chance e outras muitas pessoas, também normais, não tiveram? a primeira reação que as pessoas tem nesses casos é rezar, mas a minha não. a minha é sempre pensar nas possibilidades. pensar no que eu já fiz, no que não fiz, no que ainda tem pra fazer. computar várias avaliações, todas as combinações possíveis. eu ajo ou ignoro?, é isso que eu ainda não tenho certeza.

    Agora sabe o que me deixa admirado, intrigado com isso de verdade? foi a terceira vez que apontaram uma arma pra minha cara e não atiraram. agora me responde: até quando isso vai acontecer? até quando isso é POSSIVEL que se repita? isso é dádiva divina, ou acidente de percurso genético?... porque sinceramente, um cara que saca uma arma e aponta pra cara de outro TÊM a intenção de atirar, e existe uma margem de 50% de chance pra que isso aconteça.

    é ou não é?

    são esses koans que vão acabar me destruindo.
    ou me reconstruindo, seja como for.