sobre a "terra dos bravos"

  • quinta-feira, 29 de março de 2007
  • Wash.
  • fico impressionado como os americanos são burros.

    ***

    ok, depois de ver a minha primeira frase escrita e repensada, pode ser que eu esteja generalizando. afinal de contas o documentário de Michael Moore, Fahrenheit 11 de setembro, arrecadou 100 milhões de dólares nos cinemas americanos; isso significa que muitos americanos se dispuseram a ver o ponto de vista de Moore, mas ao mesmo tempo isso não significa que concordaram, já que George W. Bush foi re-eleito. "Esse cara foi re-eleito!!"... e instantaneamente volta a primeira frase em questão: o que esse povo tem na cabeça??? com tanta informação e com pessoas inteligentes mostrando a verdade, usando ferramentas midiáticas abrangentes como o cinema e a internet... o que os faz manter a opinião e releger um tipo desses?? meu deus...

    não que eu tenha algo a ver com isso; quem sou eu!!! só mais um habitante desse planeta, no mesmo barco que outros bilhões - num barquinho mais fraco, destinado aos sulamericanos, ok!; mas sou só mais um. minha presença é descartada nas decisões mundiais, obviamente. sem contar que nem é meu povo, minha terra natal, minha "tribo", assim por dizer. o problema é que temos que conviver com as decisões deles. além disso o principal governante do meu país também foi re-eleito. e convenhamos: ele não é nenhum gênio, nem visionário nem incorruptível. mas ao menos não tem a capacidade de intervir nas relações do mundo todo. o Luís Inácio tem a optativa. já o sr. Bush tem a decisão final.
    mas me irrita muito o pensamento americano de que na America do Sul inteira só tem indios; aqueles rednecks que pensam que a capital do Brasil é Buenos Aires, que aqui não tem geladeiras, que o povo anda de sarongue na rua, que os turistas são imobilizados com "boa noite cinderella" pra terem seus rins extirpados e vendidos no mercado negro! aff, como esse pensamento arcaico jesuíta me irrita!! você não faz idéia... na Europa também pensam quase isso, mas é uma coisa mais antropológicamente centrada; sabem que somos pobres e reconhecem as camadas de desigualdade social, mas sabem que não somos esclarecidos quanto a nossa situação (digo a relação rico-pobre e a força de uma revolução social). o japão também é preconceituoso, mas eles não contam: vão na onda que os EUA estiverem. "maria-vai-com-as-outras" mesmo, sem medo de se enganar. já deveriam ter aprendido depois da bomba, mas ok. um dia eles aprendem. por enquanto é cômodo pra eles...

    agora o contra-ponto: vamos evitar a generalização. existe muita gente interessada em acabar com o estereótipo paranóico e ignorante do americano. pra mostrar que não estou generalizando a "burrice americana", dá pra fazer um Top 5 de cabeças pensantes americanas que se destacam nos meios de comunicação. Top 5: mais que 5 já seria um desafio!...


    -Michael Moore se destaca pelo sarcasmo que usa na crítica da sociedade americana. armas, paranóia, multicorporações exploradoras de mão-de-obra, e principalmente George W. Bush são seus principais alvos. é um cara esperto, mas as vezes se deixa levar pelo orgulho americanista patriota; dá pra perder uns pontos, quando ele age assim. mas enfim...

    -Noam Chomski é um cara realmente que sabe do que está falando. deixa de lado um pouco da sua função principal - a linguistica - só pra descarregar um pouquinho o seu rancor pela política "new-romano-imperialista" americana. sua critica se dirige mais politicamente mesmo, fazendo planos de como o governo americano domina e destrói as relações mundiais, e consequentemente implode sua política interna dessa forma.

    -Jello Biafra é um punk que pensa. quase um quarto de século dedicados a ridicularizar a política americana, aos dogmas católicos e aos bons costumes yankees; destacando o episódio da candidatura à prefeitura de San Francisco, da qual quase saiu vencedor.

    -Lenny Bruce pode estar na lista, apesar de ter feito tudo da forma que queria. Na verdade ele usava de uma critica social corrosiva pros seus próprios fins. Ganhava até um bom dinheiro com isso - até aí Moore e Chomski também ganham MUITA grana dessa forma. Era comediante de stand-up, esses que ficam nos palcos contando piadas. As piadas, no caso, eram sobre padres, atores hollywoodianos, congressistas, política externa... foi expulso de muitos clubes nos EUA inteiro, processado, preso; suas opiniões até ganharam arquivo no FBI. morreu em 66 no banheiro de sua casa em Hollywood, overdose de morfina.

    -Matt Stone é o co-criador da série South Park: descarrego mais bruto da podridão social americana impossível. os 4 garotos do pequeno condado caipira se deparam o tempo todo com a hipocrisia, o racismo, o falso-moralismo, a cultura "inculta" e a paranóia americana. só não vê quem fecha os olhos.

    sobre writer's cramps

  • terça-feira, 20 de março de 2007
  • Wash.
  • eu sabia. é sempre assim: tenho bloqueios quando fico com algum problema ou deprê com alguma coisa. cabeça cheia de preocupação e pronto!: não consigo escrever mais nada. fico assim um tempão e o blog lá, mofando, esperando minha deprê passar. é realmente desnecessário...

    não tenho feito nada, além de ir atrás de empregos. o resto do tempo? ocioso em casa, na frente do computador e me apoiando no controle remoto da tv. a faculdade também é bem-vinda (não todo dia, mas é necessária...). me abstenho do contato dos amigos nessas fases também, é inevitável. melhor pra eles, porque fico insuportável.

    não sobrando muita coisa pra falar sobre, toma aí o Top 5 de Som e Imagem da Semana:

    SOM:
    1. Dinosaur Jr. - Beyond (a volta de J., Lou e Murph: sensacional).
    2. Andrew Bird - meu atual herói musical.
    3. The Locust - tudo.
    4. Johnny Cash - todos da série derradeira "American Recordings".
    5. Elton John - só a Tiny Dancer, porque essa musica é maravilhosa.

    IMAGEM:
    1. O Operário, com Christian Bale em versão Auschvitz.
    2. A Era do Gelo - os dois na sequência... bobinho mas diversão garantida.
    3. O Virgem de 40 anos (-sabe como eu sei que você é gay? -como? -você gosta de Ásia!)
    4. Bob Esponja, o Filme (pode ser que eu perca a credibilidade geral aqui; mas é sério. é foda!)
    5. Panico na TV zoando o Bush.

    PS: ainda sobra como recompensa os filmes do Cassavetes que tá rolando no CineSesc. essa vale MUITO a pena.

    sobre barulho escroto

  • quarta-feira, 7 de março de 2007
  • Wash.
  • à primeira audição do The Locust, a impressão que se tem é de dislexia. nesse disco novo, chamado The New Erection (se vc acha o titulo do disco bom, precisa conferir o das músicas!), os caras incluiram um elemento que difere dos passados - o kraut rock. era de se esperar ,ou não (...?), já que eram no inicio uma banda de grindcore com a peculiaridade única de usar um moog... daí sem tem uma idéia do que se trata, ou seja, você NÃO TEM IDÉIA de como fica né!... pois é. fica estranho.

    incrívelmente eles ouvem grind, thrash-metal oitentista, jazz avant-garde, death, kraut... e conseguem misturar tudo isso de forma coesa. tudo fica encaixado, inexplicavelmente coerente. no quesito coerência, de fato, não diferem do que já fizeram no passado; mas nesses 3 últimos discos (Plague Soundscapes e Safety Second, Body Last) o virtuosismo e a solidez do estilo "locustiano" ficaram inabalados. é um barulho de dar medo de ouvir. chega no ouvido com aquela interrogação, só provocada por inovadores como John Zorn, Napalm Death, John Cage, DNA... coisa desse nível.

    outro fator curioso são as apresentações ao vivo bombásticas: sempre à caráter - travestidos de gafanhotos. exercem as musicas de forma impecável (se bem que ouvidos despreparados diriam que estão tocando qquer coisa) e com uma performance violenta, dando realmente a impressão de um enxame de insetos vorazes. outra coisa que destaca é o fato de se notar, entre os intervalos de um som e outro, que o vocalista é fanho!!! sinceramente não faz diferença quando ele canta, cá entre nós...

    discografia:

    Split 10" EP com Man Is The Bastard (1994)
    Split 5" com Jenny Piccolo (1995)
    The Locust 7" (1998)
    The Locust (1999)
    Split 7" com Arab on Radar (2000)
    I'll Be A Monkey's Uncle remixes (2000)
    Flight of the Wounded Locust (2001)
    Split 7" com Melt-Banana (2002)
    Follow The Flock, Step In Shit (2003)
    Plague Soundscapes (2003)
    Safety Second, Body Last (2005)
    New Erections (2007)

    sobressas cousa di'cumo nostra genti parla

  • segunda-feira, 5 de março de 2007
  • Wash.
  • o jornalista Alexandre Marcondes Machado (1892-1933) nasceu no interior de São Paulo, em Pindamonhangaba. Quando mudou-se para a capital, o contato com a comunidade imigrante italiana o empolgou tanto que criou um personagem - Juó Bananère - baseado no dialeto macarrônico criado com a mistura do português e o italiano. ficou popularíssimo na época, escrevia artigos e transpunha contos e poesias de outros escritores (adaptações de La Fontaine, por exemplo) em macarrônico. escreveu apenas um livro, tido hoje como raro, chamado La Divina Increnca. grande "seguidor" de seu estilo foi Adoniran Barbosa: é só conferir letras como tiro ao alvaro ou samba do arnesto pra ter uma idéia.

    Dando uma olhada na obra de Bananère, dá pra fazer uma relação interessante; será que Bananère poderia ser considerado o precursor da linguagem "fOfUcHeIxX-eMo", falada massivamente pela criançada nos orcutes da vida? segue um exemplo, pra você tirar suas dúvidas...

    http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=7128154

    minha conclusão: pelo menos Bananère tinha senso de humor e sabia o que estava fazendo...

    sobre pecados e pecadores

  • sexta-feira, 2 de março de 2007
  • Wash.
  • outro dia vi a propaganda na televisão daquela peça com a Fernanda Torres, A Casa dos Budas Ditosos, e fiquei curioso. não, ESTOU curioso: será que é tão bom quanto o livro? quer dizer, o livro de João Ubaldo Ribeiro não é exatamente uma bíblia do sexo, um guia a ser seguido a risca, mas é muito muito bom mesmo, se tratando principalmente do desenvolvimento e da condução narrativa das estórias. enfim, será que a Fernada Torres dá conta mesmo do recado? é muita coisa pra um monólogo, ela deve fazer um belo dum resumão... mas eu gostaria de conferir ( se alguém aí já viu, me conta como é?)

    aliás nunca li mais nenhum livro dessa série, gostaria de encontrar mais alguns dos sete pecados capitais; é que esse da luxúria do Ubaldo Ribeiro ficou maravilhoso, acho q foi por isso que os outros acabaram meio apagados, mas quero comprovar. esse lance dos pecados capitais é sempre um tema abrangente, apesar de achar o São Tomás de Aquino um idiota manipulador, ele acertou no tema. mas é só interessante, nada pra se levar a o pé-da-letra.

    vale a pena citar também a idéia dos sete pecados capitais passados pra tela do cinema na versão do David Fincher, conhecido simplesmente como SE7EN. eu acho genial. só ficou batido porque veio junto uma enxurrada de cópias B comerciais horríveis, e acabou fudendo o original. mas apaga todas essas bostas da cabeça e fica só o SE7EN do Fincher, ele é original de verdade e genial. destaque pro Kevin Spacey que faz maravilhosamente o sr. John Doe.

    aproveitando o ensejo dos pecados capitais, botei na minha pasta do eSnips uma mixtape (sic) de sete artistas dando sua visão musical pra cada um dos condenamentos cristãos. essa mixtape era um dos projetos que eu tinha pra botar em cassete junto com meu extinto zine; tô aproveitando pra botar ela no ar agora. eu diria que a maioria deles não são exatamente "positivos"... mas o que importa? ficou assim:

    Powered by eSnips.com


    você pode ouvir e baixar essa mixtape inteira no meu eSnips, vai lá no RadioWashDotCoffee

    PS: procurei saber sobre as sete virtudes capitais também, mas nem vale a pena discernir sobre elas: os PECADOS são infinitamente mais interessantes do que as virtudes...

    sobre "recorta e cola"

  • quinta-feira, 1 de março de 2007
  • Wash.
  • eu já tive um fanzine, sabe. era bem genérico, falava sobre tudo um pouco. uma vez ou outra algum amigo ajudava com um poema, com uma ilustração... até uma imagem legal recortada de uma revista contribuia. era bem legal produzir fanzines no começo dos anos 90, na era pré-internet; o lance tinha a peculiaridade de ser bem punk, com recortes, muito durex e cola Pritt de bastão... maquina datilográfica! garotos novos nem sabem direito o que é uma maquina datilográfica, oras! fico impressionado como tanta coisa mudou no prazo de 10 ou 15 anos! esse é outro assunto que dá pra discertar um dia todo... mas enfim: o fanzine.

    em 91 eu fazia parte de um coletivo anarquista paulista. nessa época quase todos do grupo produziam fanzines, mas os temas não variavam muito: era na sua maioria sobre vegetarianismo, planos de ação anarquistas e bandas crust/punk/grind. além da infinidade de fanzines que eu recebia por via de um meio de comunicação não muito usado hoje em dia chamado correio (de novo sobre as modernidades do mundo globalizado; creio que em poucos anos a comunicação via correio vai ser tão arcaica quanto o telégrafo de código Morse...) dentre os quais poucos também variavam seus temas fora desse padrão. realmente não vou citar nenhum porque eram milhares chatos e alguns poucos bons. atualmente o fanzine continua vivo na forma digital - e cá entre nós atinge a meta de divulgação com muito mais facilidade! um fanzine pode virar a bola da vez em questão de dias por uma noticia de primeira mão, um video inteligente ou até - me perdoem o pejorativismo - ou até por alguma biscate famosa trepando em alguma praia pública. basicamente é muito fácil fazer um zine hoje; o próprio blog pode servir como zine, por exemplo!

    mas legal mesmo era produzir no bom e velho método artesanal: vc dobra 4 folhas sulfite A4 no meio, rouba imagens de outras revistas e usa em juxtaposição, datilografa as notícias que pega de revistas gringas e outros zines,cola bordas com o bastão e pronto! é só xerocar e distribuir. o meu era de graça - não ia cobrar por aquilo, lógico. fiz 4 numeros e desisti. me perdeu um pouco a graça e o tempo encurtou, mas ainda guardo os originais.

    o meu quinto exemplar já ia começar a ficar com uma certa sofisticação: a primeira página seria impressa à cores e junto ao zine viria um cassete mixtape com uma seleção das coisas que eu estava mais ouvindo na época. o caso é que ia ficar muito caro pra eu bancar isso tudo do bolso e teria que cobrar, o que já saia da minha proposta original. como aqueles esquemas de dvds em banca de jornal: não cobram nada pelo dvd, mas a revista que vêm junto - de 4 páginas - custa $19,90...! no final fiz 10 cassetes apenas, distribui para os amigos e desisti do projeto. isso por exemplo é um luxo que eu poderia me dar hoje, já que um cd-r custa 90 centavos. mas os espaços de locação da internet estão aí pra facilitar esse trabalho mais ainda: aloco os sons no site e vc lê minha resenha e baixa as musicas, olha só que prático! lembro quando minha avó me falava que no tempo dela era tudo mais difícil, que tinha que ler na luz da lamparina. agora eu sou minha avó.