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Top 5 Albuns "Fuckin' Ever", parte 3

  • quarta-feira, 20 de maio de 2009
  • Wash.
  • parte 3: Fugazi - In On the Kiltaker



    posso dizer que confundo Fugazi com a minha própria estória dentro do que engloba o punk e o hardcore; assim como outras boas bandas, o Fugazi me chegou por programas de radio bem especificos no começo dos anos 90, quando se tinha o habito de encontrar coisa boa numa dial, como eu já disse em algum texto aqui antes. bastaram algumas faixas do Repeater, na época de seu lançamento, e essas musicas mudaram definitivamente TODOS os meus pontos de vista dentro do rock; até então nunca havia ouvido algo tão genial, pelo menos na minha compreensão de genialidade musical, que unisse o criativo, o harmonizado e o visceral numa unica banda. creio que muita gente aqui pode compreender perfeitamente sobre o que eu falo, enfim. de qualquer forma, é dificil pra mim falar racionalmente sobre fugazi sem deixar aparentar toda minha admiração pelo que esses caras fizeram, principalmente pela contribuição que deram na sonorização do que viria a ser o punk inteligente dos anos 90 em diante, isso sem falar no aspecto "politizado" que eles tambem inseriram: tiraram um pouco da irresponsabilidade cretina que pairava feito névoa sobre o rock, e sobrava no punk, pra dar lugar à sobriedade de se fazer musica inteligente nas harmonias, nas letras metaforicas e subjetivas, e na raiva que transpunha incontida no poder da voz e na distorção da guitarra, alem de vender a musica de uma forma global e pela primeira vez REALMENTE independente, o que foi de fato inovador dentro do mercado mainstream fonografico, e genial dentro do mercado paralelo indie; arrisco a dizer que se não fosse pelo empurrão inicial do Fugazi e da Dischord, muita coisa do que temos facilidade (mercadologicamente falando) hoje ainda não seria possivel.

    mas não é pra isso que eu quero falar de fugazi: é sobre a genialidade musical de MacKaye e Picciotto, e porque não dizer os Lennon e MacCartney do post-hardcore!...

    anyway, acompanhei o Fugazi no inicio do seu despertar como banda inovadora, no Repeater. posteriormente procurei o que mais eles tinham feito, e descobri o 13 Songs, que unia os dois primeiros EPs. achei incrivelmente sagaz, linhas de baixo e bateria incriveis, frases de guitarra marcantes, um encontro do punk e o melhor que a musica pop podia proporcionar. mas ainda o Repeater era um passo a frente. no Repeater eles conseguiam enfiar no combo, além do punk e do pop, boas doses de reggae e jazz nas levadas, entremeio de guitarras caóticas thurstonianas e as vezes secas como Gang of Four. a massa tava pronta: só bastou pros caras modelarem o que tinham criado. e a cada disco, se notava um passo a frente.

    o proximo foi Steady Diet of Nothing. continuava a ascensão de criatividade, com guitarras mas sincopadas e menos poderosas, marcando tempo, e baixo e bateria guiando as direções principais. alias isso faz o Fugazi um grupo genial também porque deixa cada membro da banda solto, dá liberdade pra qualquer um dos quatro CRIAR a direção desejada, e não exatamente as guitarras ou a voz.

    então eu estava com um grupo de amigos quando um deles chegou dizendo que tinha pedido pelo correio o Steady Diet e mandaram em vez disso um novo, inedito, saido do forno aquele momento: o disco se chamava In On the Killtaker. quando peguei meu exemplar e coloquei pra tocar, a primeira faixa revelava ter O RIFF DE GUITARRA MAIS PODEROSO já feito, aqueles que vão enchendo seus ouvidos e serrando seus punhos, aqueles que te dão uma vontade de sair quebrando tudo que se vê pelo caminho, na sua ira teenager sem causa exata. Facet Squared é o som que define a minha geração: urgente e desnorteada, usa o velho pra fazer o moderno, usa a raiva pra fazer funcionar a cabeça.

    as 11 musicas em sequência vão destruindo qualquer possibilidade de resposta antecipada, de pensar que o que vêm em seguida voce já ouviu antes, e de pensar que a sua banda pode fazer melhor. porque não pode. a urgência de musicas como Public Witness Program , Smallpox Champion e Great Cop não te dão tempo de pensar no que aconteceu: são rolos compressores feitos de camadas de guitarra e bateria e berros e palavras que chocam. é a partir desse disco também que o Fugazi começa a demonstrar mais semelhanças com bandas noise experimental, como o Sonic Youth. os timbres de guitarra de Rend it, 23 Beats Off e Walken's Syndrome são muito tensos e desfocados, exatamente como os novaiorquinos citados adoram fazer.

    os detalhes e ruidos são trabalhados de forma primorosa, a modo de fazer sentido a cada inserção, a cada pausa, em Cassavetes (homenagem ao grande diretor, quem vem da mesma escola ideológica anti-mainstream) e na obra prima Instrument. enfim o disco é fechado com uma das mais belas canções que o quarteto já criou: Last Chance for a Slow Dance, com uma guitarra ciclica eterna e um baixo que molda as oito frações rodopiantes de cada refrão; eu adorava ouvir essa musica num velho aparelho que eu tinha, que simulava um karaokê, mas na verdade ele decompunha o canal da voz no cd. e acho que essa musica foi gravada com um segundo vocal colado, com muito reverb, e que o aparelho não distinguia.. então o efeito de que o Piccioto estava num banheiro a dezenas de metros distantes soava incrivelmente maravilhoso.

    depois desse disco, o Fugazi continuou inovando, se superando. mudando pontos de vista dentro do rock. Red Medicine, End Hits e Argument são uma sucessão de progressões do estagio avançado do punk rock, em harmonias e ideias: é o que o free jazz representou para o ragtime no jazz. Mas In On the Killtaker ainda é insuperável pra mim: ele definiu o perfil que eu queria seguir como musico e compositor, algo que com o tempo mudou um pouco e continua, mas ainda assim esse disco é o meu alicerce se tratando de inovar a música sem perder o fio da meada do punk hardcore.

    thanks aos rapazes e garotas do blog Less Talk, More Rock, de onde eu "roubei" o link, e de onde tem muito mais além desse que vos trago. enjoy.

    0 coffee junkies: