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as desventuras de Benzina (parte 2: o encontro com o tubarão)

  • sábado, 24 de janeiro de 2009
  • Wash.
  • ok, criei coragem pra dar sequencia à segunda parte pra essa que pode ser a menor epopeia da historia - e a mais obsoleta, isso com certeza - onde encontramos nosso heroi Benzina flutuando nas aguas escurecidas de Santos circulado por uma barbatana e seu tubarão, sedentos por carne fresca de paulistanos farofeiros adictos em drogas. como isso aconteceu?: bom, peguei ele contando a estoria a partir desse trecho quando cheguei na banca... mas depois me contaram a façanha por completo desde o inicio e, desacreditado, mais uma vez chorei na rampa pelo descaramento do nosso compatriota ao relatar tal conto de vigario, e consequentemente, pensar que nascemos ontem!...

    dessa vez relatava ele sobre descer até Santos num final de semana qualquer, em outra ocasião além daquela da moto - sim, por certo ele descia até o litoral com a frequencia de um garoto proletário que finge ser da média-alta - bem, dizia que naquele dia ele, sua garota e alguns amigos aproveitavam o calor da praia central e a rebentação espumante das ondas sujas santistas. chegara logo pela manhã, antes do sol estalar na nuca. no carro traziam pranchas, baseados e baralhos. pro rango básico, traziam frangos, guarnições de arroz e salpicão e torta de forma, bolos pullman de supermercado e muita, muita cerveja nos isopores com gelo. algo dizia que aquilo tudo não cairia muito bem...

    pois bem, o programa corria ao combinado: ao chegarem já foram logo caindo na agua, pegando algumas pequenas ondas por conta da rebentação baixa. do meio do dia à parte da tarde se resguardaram do sol forte sob os guardasóis dos quiosques, comeram seus rangos, beberam quase toda a cerveja que trouxeram - o que não ficou quente no isopor, por suposto - e compraram mais dos ambulantes caiçaras... se embebedaram, basicamente. por fim, pra completar o indigesto cardapio praiano, comeram uns bolos e compotas que trouxeram na viagem. ele proprio comeu sozinho dois daqueles rocamboles enjoativos. satisfeito, ele se jogou na areia quente pra pegar um bronze. dormiu, induzido pelos efeitos da digestão pesada e pelo grau da cachaçada.

    acordou todo ardente, vermelho pela exposição exagerada ao sol e ao mormaço. a melhor ideia que teve nesse momento foi se levantar e correr pra agua salgada do mar e se atirar, pra dar aquela aliviada no ardor. resolveria momentaneamente, até o sal da agua começar a penetrar a pele ressecada e a sensação de queimação aumentar, mas isso não vem ao caso na estória; acontece que a agua fria do mar lhe despertou as sensações de volta, e resolveu nadar um pouco. mesmo correndo o risco de uma cãimbra pós digestiva, nadou. nadou a revelia, até um ponto que se sentiu distante e desnorteado; olhou pra tras e estava longe da praia mesmo, mas ok: desde que começasse a voltar com calma, chegaria de volta à praia são e salvo. nas primeiras braçadas de volta, sentiu um esbarrão no pé. achou estranho, mas imaginou que provavelmente era algum peixinho pequeno curioso ou um sargaço sem direção. continuou nadando e sentiu mais outro esbarrão, dessa vez deslizando em sua perna por tempo demais pra ser um peixe pequeno. parou flutuando um pouco e viu a barbatana. era o que ele temia: uma porra dum dum tubarão.

    "...que eu faço, que eu faço, que eu faço...", pensava insistentemente e sem chegar a uma resposta: se ficasse parado, uma hora seria mordido. se tentasse nadar e se debatesse com violencia na agua, seria abocanhado de uma só vez como um leão marinho. não via embarcação nenhuma ao redor, ninguem pra pedir socorro, e a praia ainda distante. e a proximidade do tubarão era relevante: só um milagre o salvaria.

    mas no vocabulario do Benzina constava sim, a palavra milagre. e foi o que aconteceu. quando a derradeira hora se aproximava, ele sentiu algo grudado em suas costas. poderia ser um desses pequenos peixinhos parasitas do tubarão, que se grudam na sua pele pra pegar os restos de suas refeições. bateu a mão em cima e puxou para si: era a faquinha de plastico, aquelas que vem dentro das embalagens de rocambole que ele havia comido ha horas; ao abrir o rocambole, Benzina em sua grotesca falta de senso civil, jogou a embalagem na areia da praia pra degustar melhor o quitute, sem o incomodo de pedacinhos de plastico na boca (sic...). a faquinha voou pra tras de suas costas, e após devorar tudo ele se deitou sobre a faquinha, que adquiriu aderencia incrivel à sua pele ao combinar a loção bronzeadora com a grossa camada de gordura vegetal hidrogenada que vinha exposta no rocambole.

    muito bem, voce deve estar imaginando o que ele nos contou a seguir. e foi isso mesmo que ele contou. exatamente. vamos fazer um corte abrupto e uma colagem na proxima cena, e resumir que o Benzina chegou à costa da praia carregando um tubarão pelo rabo e uma faquinha de rocambole quebrada ao meio, coberta de sangue do animal feroz...

    mas até a cara de pau do Benzina teria um limite?: ao dizer que teria "matado o tubarão com as proprias mãos e uma faquinha de rocambole", não conseguiu evitar de escapar uma risadinha presa em sua garganta. mas isso não o fez desmentir todo o ocorrido. nem tampouco o coro de "aaaaahhhhhs" que a galera soltou! não, de modo algum! ele teria uma foto em casa do peixe grande, e numa outra oportunidade nos mostraria, sim, com certeza!!...

    é. a cara de pau dele não tinha limite não.

    0 coffee junkies: