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as desventuras de Benzina, o maior mentiroso do mundo.

  • sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
  • Wash.
  • já me disseram que eu tenho um certo "know-how" pra contar estórias. assim como um Forest Gump, menos simplista retardado caipira e mais ácido. ok, ninguém nunca me chamou de Forest Gump: a interpretação instantanea é que estão te chamando de retardado ou mentiroso, das duas uma, e ninguém quer passar o carão de ter que responder essa indignação. então essa é uma definição que eu mesmo escolhi. a verdade é que eu não sou nenhum mestre da comunicação falada, nenhum Jota Silvestre... e também não sou nenhuma ostra monossilábica, mas prefiro falar o necessário, o que convém pra ocasião certa na hora certa, e assim evito de ser um mala. antes mudo do que mala. mas de qualquer forma, existem estórias que valem a pena serem lembradas, e obvio, de pessoas que contam estorias que valem a pena serem lembradas. estava num onibus dias atrás quando um Fusca com teto solar passou ao lado do onibus e pah!... lembrei do Benzina.

    cara, o Benzina era uma dessas figuras (i)memoráveis, assim por dizer. aposto que algumas pessoas nem se lembravam dele até ler essa estória, aposto que nem pelo nome se lembrariam dele, ficariam pensando "...Benzina, Benzina.... quem era esse cara mesmo?..." , até porque era uma figura tão ordinária, tão ninguém, que nem mesmo o nome dele sabiamos. era só Benzina. certa vez, depois de uma das suas espetaculares incursões nos nossos assuntos particulares, ao sair, ficamos tentando descobrir quem o conhecia de verdade, quem apresentou ele pro resto dos garotos e porque ele colava na nossa banca pra contar aquelas estórias cabeludas? ninguem soube responder. mas a intermission sempre se dava do mesmo modo: ficavamos sentados nos bancos do condominio, um grande grupo de moleques, conversando sobre garotas e carros e guitarras e qualquer outro assunto aleatório que interessa aos garotos, e esse cara chegava, contava uma proeza e sumia do mesmo jeito que havia aparecido: do nada pra lugar nenhum. mas com certeza todos se lembram dessas balelas incriveis que ele contava, estórias de cunho duvidoso e sem testemunha viva que pudesse confirmar cada palavra que saia de sua boca, mas que ele contava de forma tão convincente e expressiva que acreditavamos piamente... até chegar o "gran finalle" que ele ostensivamente arrebatava o caso e que, enfim, confirmavamos a falta de vergonha do cara de nos contar tamanha mentira sem ao menos ruborizar.... era vergonhoso. pra ele, quando saia, lógico.

    bem, por qual dessas desventuras eu começo?... talvez uma das melhores era a da descida da estrada de Santos. dizia ele que uma noite estava descendo a estrada velha sinuosa que escala a Serra do Mar paulista montando uma moto, uma boa e velha Suzuki 7 galos. moto potente, viril. moto de macho, de cara forte que aguenta os guidões em rodovias curvilíneas e molhadas. descia a estrada vigorosamente, com o ponteiro atingindo a maxima velocidade que poderia. ele dizia "no talo". a certo ponto da descida, um defeito elétrico atingiu o farol dianteiro, provavelmente pela fina chuva que caia insistentemente naquela noite escura, sem lua. foi sem farol mesmo, na raça. guiou-se pelo instinto de quem fazia aquele caminho pela nésima vez. ao fazer uma das curvas mais fechadas da descida, num lance do acaso, deu de cara com um caminhão atravessado na pista, que já não era tão larga. o triangulo que sinalizava o empasse estava muito em cima do lance e a velocidade não lhe permitiria frear: ou bateria de frente com a carga atravessada na pista ou desviaria em direção ao inevitável precipicio. e agora, o que faria nosso heroi Benzina???...

    mas eis que estamos falando do Benzina! e a sagacidade da pessoa o precede, por deus!! sem pensar duas vezes e sem reduzir a velocidade, num micronésimo de segundo, Benzina não pestanejou: jogou um falso cavalo-de-pau com a moto, caindo de lado e escorregando em direção ao caminhão, e passou por debaixo do chassi da carreta... ao sair do outro lado, só deu um impulso com o peso do corpo na direção contraria da inércia da moto e a colocou de pé novamente, seguindo caminho pela estrada com apenas alguns arranhões e esfolados na jaqueta! mito! um genio rebelde! um verdadeiro espartano moderno do volante!

    uhum, ficamos boquiabertos com tamanha cara-de-pau que o cara teve pra contar uma estória dessas pra gente. despediu-se de todos e saiu, triunfante. não estava nem na esquina do prédio enquanto nos entreolhavamos e as gargalhadas explodiam. coitado. talvez teria dado certo: se tivessemos 5 anos de idade e se esse filme do Steven Segall não tivesse passado na tv naquela semana... ele não contava com isso, tsk!

    "mas deixe estar", deveria pensar o Benzina: "semana que vem eu acerto..." e ele sempre tentava. enfim, a gente merecia dar umas risadas da vida dificil, de vez em quando.

    ah sim, eu falava do Fusca com teto solar ao citar o Benzina: essa eu deixo pro final.

    1 coffee junkies:

    1. Leão,Um Moleque disse...
    2. Muito bom mesmo. Leão, um moleque. molequeleao@gmail.com

      10 de janeiro de 2009 às 12:53