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Top 5 Albuns "Fuckin' Ever", parte 2

  • domingo, 1 de março de 2009
  • Wash.
  • parte 2: John Zorn's Naked City - debut

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    quanto se pode destilar de horror, brutalidade, morbidez e esquisitise da figura de um judeu de meia idade, esqualido e desengonçado usando um óculos bottonglass? John Zorn mostrou, com esse Naked City, que o monstro contido num nerd pode ser ilimitado...


    lá pra 1991 eu comecei a comprar cds. me alegrava comprar cds; depois de anos eu conseguia deixar a velharia do vinil e entrar na maravilhosa era da tecnologia digital. eu mal sabia como estava enganado com essa troca...


    bom, pelo menos na época era uma boa alternativa pra até então "não-existencia" da internet e do mp3, e pra quem não encontrava as bandas que queria, pq o cd trouxe muita coisa pra cá que se fazia dificil trazer em vinil, não valia a pena pras importadoras. agora, anos depois, vemos que a midia da nova tecnologia é fragil demais e fica obsoleta em pouco tempo, enquanto o bom e velho vinil, com os devidos simples cuidados, dura pra sempre, e com qualidade muito superior de som...


    mas o Naked City. assim q eu comecei minha coleção de cds, um dos primeiros que comprei foi esse que ja me era chegado como classico sem nunca ter ouvido antes: o disco debut do Naked City, formados por veteranos do jazz novaiorquino e encabeçados pelo cultuado John Zorn, que já fazia seu nome por anos a fio com seu nivel acentuadamente evoluido pela vanguarda local. serio: ao lado de John Zorn, só alguns poucos musicos de nova york conseguiram exito em levar o avant-garde para um publico, não muito grande porem diferenciado, mais direcionado ao rock: entre eles o Sonic Youth, o DNA e o Half Japanese, que tiraram as influencias diretamente da "vanguarda mais vanguarda" dessa cena (Glenn Branca, John Cage e Stockhausen) e meteu a formação guitarra/baixo/drum kit tipica do rock. no caso eu destaco John Zorn por ele chegar a um nivel relativamente "extremo" do termo varguarda. ele associou, tendo como base a intensidade e espontaneidade sonora, as cena grind/hardcore de nova york/londres/tokyo, diretamente como um "braço" da musica de vanguarda que vinha sendo trabalhada por caras como Ornette Coleman, Art Essemble of Chicago, Don Cherry, caras do jazz mesmo!... e essa associação musical de repente fez sentido pra mim, e me fez ver Napalm Death e Extreme Noise Terror com outros olhos. no disco, ele não cita nem agradece nenhum artista do jazz varguarda, como podia se esperar: ele agradece e cita Napalm, E.N.T., Boredoms, The Accüsed, Lip Cream, Carcass, Ruins, entre outras bandas extremas. anormal para um musico de jazz com formação classica em piano e que domina de forma aterradora o saxofone e criou um instrumento chamado "game call"??... dessa forma quase nada seria estranho.


    Nem tampouco o acharia, se baseando por exemplo no trampo grafico de todos os cds do Naked City; temáticos, todos abordam assuntos tabus: o debut levava na capa uma foto do cadaver do gangster WeeGee, o presunto estendido no chão com a boca arregaçada. isso além das ilustrações sinistras do desenhista outsider japones Maruo Suehiro. Torture Garden traz cenas de filmes undergrounds japoneses de bondage e SM extremo; Grand Guignol, homenagem ao teatro de horror frances que chocou Paris no começo do seculo 20, mostra uma cabeça humana milimetricamente serrada expondo partes do cerebro; um dos q mais choca é o Leng T'che, que mostra uma foto rara de uma execução publica chinesa medonha, que consistia em entupir o condenado de ópio e fatia-lo, vivo, em 100 partes (em mandarim, leng t'che).


    foi um choque auditivo. Naked City começa com uma leitura estranhissima do tema de Batman, retorcida sob sua base original. a seguinte não indica nem um pouco o climax do disco: é uma releitura do classico de Morricone, the Sicilian Clan, cheia de bases climaticas e suaves, lindissima, assim como mais algumas trilhas encontradas no segmento do cd inteiro. mas a paulada na fronte vem com Reanimator, obviamente homenagem ao filme gore dos anos 80; dai em diante o quinteto arregaça uma brutalidade sobre os instrumentos, na boa, de ficar de queixo caido. no ápice do esporro, o quinteto varia em sexteto, botando o japa mais insano da ilha, Yamatsuka Eye do Boredoms, no vocal (vocal??...); os berros de Eye, que mais parece estar sendo morto a pauladas, ou atacado por um urso, dão o grande toque de sofrimento e agonia por tras das composições caóticas, que por sinal eu pensava que os caras tocavam no default, mas pra minha grande surpresa comprei um video anos atras do Naked City tocando ao vivo no NY Radio Music City Hall, e lá estão eles, todos os cinco seguindo partituras!!... quando entra o japones, contrastando com o resto da banda com seu estilo crust de dreads saltando pra fora do capuz na cabeça, ele é "regido" por Zorn, que dá os sinais do momento certo pra que Eye solte os gulturais podres no meio da musica. esses shows do Naked City deviam ser espetaculares, já que as vezes Yamatsuka Eye era substituido por ninguem menos que Mike Patton... daí a destruição atinge patamar catastrofico. o projeto Naked City encerrou suas atividades em 1993, mas Zorn continua até hoje a trabalhar com o seu "grind-avantgarde" em projetos como Cynical Hysterie Hour, Nani Nani solo com Yamatskuka Eye, Hemophiliac com Patton e Ikue Mori, a serie Music Romance, Moonchild/Astronome/Six Litanies, entre os muitos projetos que mantem. com certeza um dos caras que mais trabalham no cenario musical mundial da atualidade. e apesar da barulheira toda, acredite: pra ele isso é jazz. como dizem as letras pequenas no encarte do Spy vs. Spy: "fuck hardcore rules".


    PS: tem um blog italiano que além do debut Naked City, tem a discografia inteira, assim como os trabalhos de Zorn no Painkiller, Masada, Filmworks e varios outros. indispensável pra quem gosta desse maluco.


    http://zornography.blogspot.com/
    enjoy.

    1 coffee junkies:

    1. Marcelo Mayer disse...
    2. confesso.... que achei o disco do caralho! bom gosto!

      9 de março de 2009 às 03:20