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"who watches the watchmen?..."

  • segunda-feira, 9 de março de 2009
  • Wash.

  • "voces estão enganados! não sou eu que estou aqui preso com voces: voces é que estão presos aqui comigo!!..."

    (Rorschach, Watchmen.)

    ***

    obvio que depois de assitir o filme eu não resisti de escrever sobre ele, obvio...
    foi uma porcaria de um sabado frustrante: tava com uma puta fome e não consegui chegar a tempo no Lotus; não consegui folga do trampo e nem dinheiro pra ir no Circle Jerks; não consegui sair a tempo do trampo pra ir na festa de um amigo, além de continuar sem dinheiro, sem balada e cansado bagarai. derrotado: me restou fazer um ranguinho em casa e cair na cama. mas no domingo não ia dar pra passar batido, não ia desgraçar o meu fim de semana por completo. tinha que ter algo pra salva-lo: e antes do trampo tive que ir ao cinema assistir WATCHMEN.

    eu sei, a essa hora deve ter um zilhão de blogs por aí borbulhando sobre Watchmen, a estreia cinematografica do ano, a obra prima de Allan Moore filmado BRILHANTEMENTE por Zach Snyder, o Spielberg da nova geração, blah blah blah... eu sei que é carne de vaca. mas que se dane. tou afim de escrever sobre Watchmen porque sou um nerd que comprou essa caralha quando saiu a primeira edição e espero por esse filme ha pelo menos 15 anos, então me deixe.

    primeiras considerações: se eu fosse o mal-humorado do Allan Moore, eu ficaria orgulhoso pelo menos dessa vez de ter uma obra minha transposta pra tela de forma tão coerente e magistral; é óbvio que a maioria das adaptaçoes de livros ou quadrinhos para o cinema não são fieis. não tem como ser: pra adaptar tudo que a estoria pede, viraria uma novela. mas Watchmen coube num longa de 3 horas sem deixar buraco no roteiro, sem enrolação e sem grandes perdas da estoria original. sem contar que não houve incongruencias como ADAPTAR figuras ou situações politicas pros dias de hoje, não. o roteiro se manteve nos anos 80, assim como foi escrito. alguns quadros foram extremamente fieis à quadrinização original. até a trilha sonora se manteve inabalada nos anos 80 e antes, sem adaptações de bandas novas e coisas assim (muito conveniente uma cena que um grupo politico discute planos de dominação mundial enquanto rola "everybody wants to rule the world", dos oitentistas Tears for Fears, em BG). e o melhor de tudo: ainda bem que demorou tantos anos pra adaptar pro cinema, graças a tecnologia proporcionada. se fosse ha 5 anos atras, provavelmente teria saido uma porcaria.

    legal a movimentação, efeitos visuais, dinamismo, violencia, porrada, sexo, essas coisas todas que fazem parte... mas correndo o risco de fazer um comentario cretino aqui, dá pra dizer que o grande insight de Watchmen é decompor a imagem do super-heroi, do homem inatingivel, inquestionavel, do homem como ser supremo no universo. Moore dichava o id, ego e superego com uma estoria onde a grandiosidade do homem na figura de herois uniformizados que "mascaram" mau-caratismo, abuso de poder, promiscuidade e loucura. desculpe a frase pronta, mas tudo indica que Moore é desses que "escrevem certo por linhas tortas" (entenda escrever certo como discussão filosofica e linhas tortas como quadrinhos juvenis). ele traça um possivel percurso da historia dos anos 80 em diante, existindo a possibilidade de que um supergrupo de defensores (sendo que apenas um deles tem poder sobrehumano ilimitado) ajam de acordo com o "bom-senso politico" americano. não dá pra contar a estoria inteira, mas o decorrer de algumas situações criadas rola uma analise filosofica fudida sobre moralidade, existencialismo e a relação homem-deidade. não foi a toa que Watchmen mudou o curso das revistas em quadrinhos e do formato humanizado dos herois de quadrinhos modernos: o bagulho é genial.

    meu destaque em tudo isso fica pro Rorschach, ex-integrante do grupo de super-herois que resolve investigar o assassinato de um deles, no maior estilo film noir, narração em primeiro plano. Rorschach é um anti-heroi de crueldade unica, violento até o osso, e com uma disfunção de personalidade brutal que só se reconhece socialmente com uma mascara na cara, e quando sem a mascara é quase um casulo de pessoa. Rorschach é em termos o mais desequilibrado, e no entanto é o unico a encarar de frente um "deus" em nome dos seus principios. o deus ganha, é claro.

    0 coffee junkies: