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sobre ficar mais velho

  • quarta-feira, 4 de junho de 2008
  • Wash.
  • vamos exemplificar da seguinte forma - uma forma coerente pro meu mundo, enfim: me sento encostado num balcão, em algum buteco sujo da Augusta. a Augusta já foi mais suja do que é hoje em dia, mas foda-se... ainda é um bom exemplo. enfim, no balcão do buteco um tiozão escroto senta ao meu lado. ele é o TEMPO. usa uma camisa de botões quadriculada de péssimo gosto, desabotoada até o meio da barriga. correntes de ouro no pescoço, esverdeadas pelo zinabre que sai do suor e do sebo na sua nuca. uma calça de sarja velha presa por um cinto de couro que desaparece sob a banha da barriga que desaba partindo do meio do peito. ele senta ao meu lado e seu cheiro é acre, arde as narinas pelo suor forte que ele exala. isso mais o mofo e naftalina das roupas me provocam uma sequência de três micro espirros. prendo o nariz pra que eles cessem.

    o senhor TEMPO senta ao meu lado e me encara, com um sorriso cheio de dentes amarelos. um "hehe" gordo desprende um hálito de camelo daquela garganta milenar. pede um rabo de galo pro balconista e manda na golada. pede outro. ele se vira de novo pra mim e balbucia uma sequência de silabas e perdigotos no meu rosto: "é o começo do fim", ele diz. "o que você tá achando?"... "vai aguentar?? vai pedir arrego??"
    "um dia o fim tem que começar, porque não hoje??" eu respondo. e não, não tenho medo. não tenho nada a favor, não tenho nada contra. em volta do buraco é só beirada, e partir daqui de cima é só ladeira! let it come! solta os seus leões na arena cheia de cristãos! manda vir que ainda estou de pé. acho que não te devo nada, nenhum centavo, tiozão. ainda estou na atividade, ainda sinto o vento na cara. enquanto tiver boca pra falar e olhos que enxergam no escuro, pernas pra correr e braços pra proteger do impacto, enquanto eu tiver um cérebro e souber usa-lo de uma forma minimamente coerente... tou aqui. só jogo a toalha hora que não tiver nada disso, e pro inferno essas ideias que "vão tentar puxar o seu tapete" porque... simplesmente não dou motivo pra NINGUEM querer fazer isso! esse foi o grande truque que você me ensinou, tiozão; esse foi no naipe do Houdine! o Robert DeNiro do Scorsese!... wakatá?

    o tiozão fecha a cara e ajeita a bunda gorda no banquinho minimo; "boto fé", ele balbucia de novo. "chico... bota um rabo de galo pro minino aqui. na minha conta"...

    2 coffee junkies:

    1. Lyla Lopes disse...
    2. Massaaaa

      4 de junho de 2008 às 11:07
    3. marilia. disse...
    4. num é pimba não, meu filho... é a muléstia!

      5 de junho de 2008 às 20:27