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sobre música, religião, e ouvir Morphine na rua.

  • domingo, 29 de junho de 2008
  • Wash.
  • eu acho que a música realmente influencia no jeito de ser da gente. pelo menos tenho certeza que influencia no MEU jeito de ser. acho que provoca a mesma sensação em alguém que é religioso na busca pela sua fé, já dizia São Coltrane, e se minha assinatura tivesse crédito na praça eu assinava embaixo, inteiramente: acho que finalmente começo à compreender e à absorver o "amor supremo" difundido por Coltrane; ainda sou meio "humano" e sinto que preciso de respaldo, de apoio pra continuar, seja qual for a missão. vícios não me servem: alcool é só diversão e não presta pra esse propósito. é como veneno. cigarros também. um leve vicio em café e coca-cola, mas não serve como apoio incondicional. religião, deus, buda, allah, krshna, kamisama, charles manson...? não. minha visão é mais mitológica do que sagrada... um outro dia explico essa parte melhor, enfim.

    e finalmente me sobra a música. a música serve como religião, partindo desse ponto. meu estado de espírito se retorce de acordo com o som que sai dos fones. me firmo como concreto e me afundo como em areia-movediça com a rapidez de uma faixa pulando pra outra. é tão grave que geralmente preciso escolher bem o som que vai me servir de trilha sonora em ocasiões: por exemplo, easy-listening pra ir trabalhar, punk rock pra pré-balada... e assim por diante. e se esqueço o mp3 player em casa... pode voltar pra trás!

    ***

    dia desses eu andava pelas ruas de Pinheiros, ainda úmidas pela chuva recente. 3 horas da tarde, aquele dia cinzento, menos quente do que frio, e Morphine rolando nos fones. o efeito foi incrível. de repente me pego pensando sobre minha vida de jeito que eu não pensaria se o clima fosse outro, se o lugar fosse outro, mas principalmente se a MÚSICA fosse outra. não entremos em detalhes sobre os pensamentos propriamente ditos: só sobre o efeito causado. o Morphine em especial me causa efeitos diferentes, o nome dessa banda não poderia ser mais apropriado; até já escrevi algo relativo num momento de "entorpecimento" causado pela combinação do THC, álcool, e do som de uma música em especial - Souvenir - que foi quase uma manifestação física do subconsciente. animalesco. bom, muitos outros me causam efeitos parecidos: Tom Waits, Portishead, Soul Coughing, Jesu, Godspeed You Black Emperor!, Massive Attack, ... mas Morphine é realmente um caso à parte; de como o som deles retorce a minha mente e espreme lembranças e reflexões.

    enfim, me fez bem. faz bem você ter a flexibilidade de pensar na sua vida de uma maneira que ela não aconteceu, mesmo que ainda um dia aconteça. faz bem a possibilidade. dessa forma caminhei, como faço todo dia até o ponto de ônibus. subi no ônibus, visualizei o caminho, desci no meu ponto e caminhei até o trabalho, como faço todo dia. mas o som muda o vislumbre de tudo, deixa tudo mais claro, mais nítido. você vê a beleza de detalhes que não veria de outra forma, você vê beleza no vento soprando forte o casaco de uma mulher, ou num balconista limpando o balcão sujo de cerveja do buteco, ou numa pessoa qualquer lendo jornal na parada do ônibus. tudo por causa do som. e isso é o APRENDIZADO, o SALMO, a PERSEVERANÇA e a RESOLUÇÃO: o verdadeiro amor supremo.

    curioso como o som de um baixo, sax e bateria fornece esses dados pra massa cinzenta. uma endorfina sonora... realmente foi uma pena o Mark Sandman ter empacotado tão subitamente; bom, pelo menos foi de um jeito legal: em cima do palco, no meio de um show. não deve ser melhor do que "com a cara enfiada no meio das pernas de uma bela dama" (essa estoria de novo...) mas é ok também! o Diamond Darrel do Pantera também morreu no palco, mas levar uma sapecada de tiros deve ser tão ruim sobre um palco como num beco em Diadema... ou seja: não faz muita diferença!

    hmm... aliás, como eu cheguei nesse assunto mesmo?...

    0 coffee junkies: