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sobre terremotos

  • quinta-feira, 24 de abril de 2008
  • Wash.
  • o povo daqui é meio "afobado" quando se trata de alguma coisa nova na rotina diária. um terremoto, por exemplo. por mais absurdo que pareça, acho que nunca se deve descartar que, de fato, eles podem acontecer. aviões caem: acontece. macacos raivosos atacam pedestres em ruas urbanas: acontece. padres tentam bater recordes de vôos em balões de hélio e desaparecem em pleno oceano: ACONTECE!... e porque terremotos em placas fixas tectônicas não podem acontecer? só porque são fenômenos naturais não causados pela ação humana?... bobagem: isso não existe mais, então ACONTECE sim! as pessoas deveriam se acostmar com a idéia de terremotos em São Paulo sim, deveriam achar normal, corriqueiro, deveriam obter o hábito de se esconder debaixo das escrivaninhas e carteiras escolares como os japoneses; como o cara do noticiário disse, faltava isso pro Brasil entrar no plano dos países de primeiro mundo: agora só falta nevar em Belém do Pará...

    minhas experiências com abalos sísmicos foram agradáveis. não estou sendo cruel, muita gente já morreu com essa porra; mas os 3 ou 4 terremotos que presenciei foram fracos, na mesma média desse que rolou em São Paulo. o primeiro foi nos primeiros dias que cheguei no Japão, em 98. já tinha visto trem-bala, kogarus e bossozokos... só faltava o "dishim". foi um pouco decepcionante. foi fraco, nem lembro o que eu fazia na hora, foi mediocre, tipo uma azia comum, daquelas que só balançam o estômago. botei em jogo todo aquele "auê" que faziam sobre terremotos que destruiram cidades inteiras, como o de Kobe... pensei até se aquilo não teria sido uma bomba norte-coreana ou algo assim. é uma visão meio cretina da situação, afinal se já de cara eu pegasse um de 8 graus na escala Richter, eu já empacotava ali mesmo. e isso não é uma maneira feliz de presenciar um terremoto; mas um mês depois veio um bem massa: eu tava no supermercado com uma cestinha na mão comprando pão e coisinhas, e o chão deu uma "saida" do lugar. as prateleiras bailaram levemente na minha frente, os potes de vidro fizeram aquela musiquinha batendo uns nos outros. travei seco. ali não passou uma agulha, um grão de areia. olhei pros lados pra ver a reação dos japas, porque a minha já estava a ponto de largar a cestinha no chão e sair correndo porta afora, como se isso resolvesse merda... mas tive o bom senso de olhar pros japas e eles, friozinhos como são, continuavam seus afazeres como se nada acontecesse. relaxei o esfíncter e fiquei de boa de novo. mais tarde eu descobri que se alguns vidros começassem a cair pelo chão, um pequeno caos teria se instaurado; só assim eles se desesperam. enquanto não cai nada no chão, os japas dizem "shimpaishinai". nesse dia cheguei de volta do supermercado e a nilce tava branca, com os olhos arregalados, dizendo que tinha dado um pulo da banheira na hora e por um minuto a mais não sai correndo na rua só de toalha... teria sido engraçado, pelo menos.

    a terceira experiência foi pseudo-lisérgica. eu tava dormindo e pensei que aquilo estava sendo um sonho, ou um diabo parecido, quando ouvi a casa ranger toda toda a madeira e as prateleiras balançarem inteiras. essa vez foi a mais assustadora porque à noite você não tem noção de NADA que tá rolando, nem sabe o que fazer, pra onde correr no escuro... é foda! mas foi só um balanção, nem passou disso. depois desses, vira-e-mexe eu sentia vários de menor intensidade, nem dava muita bola. mas passei a acreditar que essa porra pode destruir uma cidade inteira só com uma espreguiçada. a grande sorte da humanidade é que esse planeta deixou de ser cruel já ha alguns milhões de anos. trocando em miúdos, ou exemplificando de uma forma bem vulgar, a terra "peida" e as pessoas já tremem na base: o dia que a terra tiver uma diarréia brutal, todo mundo vai pra merda. literalmente.

    0 coffee junkies: