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sobre o rádio

  • segunda-feira, 14 de abril de 2008
  • Wash.
  • Engraçado como certas coisas somem do dia-a-dia da gente. Você tem uma rotina (algumas rotinas podem ser legais! pode acreditar...) e está habituado a fazer aquilo todo dia, e de repente um ponto dessa rotina vai sumindo, inexplicavelmente. o rádio, por exemplo: o rádio fazia parte da minha vida durante vários anos e, de repente, ele sumiu. desapareceu. não ouço rádio desde 94, quando a Brasil2000, a última (e única) "college radio" de São Paulo mudou sua programação pra uma coisa mais "ordinária" ao costume diário juvenil de massa; ou seja: passou de fudida pra uma merda inaudível. sabe o que é vc ligar o rádio em casa, no trabalho, no carro, pra ouvir Husker Du, Fugazi, Gumball, Jesus Lizard, Lemonheads na programação normal??!! e no dia seguinte você sintoniza a mesma estação e tá tocando Charlie Brown Jr, Skank... Alexandre Pires!!!... você tem uma grande decepção, pra não dizer uma porra de um ataque.

    Acho que sou da última geração que conheceu o rock via FM. depois da minha, já começou a internet. e hoje é o mundo que conhecemos, nem preciso falar disso. me lembro que comecei a ouvir rádio, como todo garoto de perifeira, na cozinha de casa no radinho da mãe, que a acompanha no dia de trabalho dentro de casa. um tempo depois meu pai me comprou um gravador de fita cassete com rádio e dai comecei minha aventura particular pelas sintonias das FMs de SP; passava mais tempo com o rádio do que na tv, ou até mesmo brincando na rua. daí pra ir pegando gosto pelo rock, metal, punk, foi tudo gradativo. e em função principal do rádio. descobri a 89FM, logo no seu comecinho, e era fudida: o programa Trip89 do Paulo Lima (da revista TRIP) era um dos meus preferidos, junto com o Comando Metal do Vitão Bonesso, nos domingos à noite. ouvia e pegava todas as novidades. óbvio que não era tão fácil como hoje em dia, que é só entrar no soulseek e baixar tudo: anotava o nome da banda e o play, ia na galeria e procurava o LP, comprava e ouvia em casa. era dificil, mas era um rolé curtido.

    O próximo passo foram os programas da madrugada da 89: os programas do Kid Vinil, o Caixa Preta do Sérgio Sá Leitão e o Rock Report do grande reverendo Fábio Massari. foi quando eu comecei a virar um insône...! e com esses 3 programas eu simplesmente pulei de U2 e Midnight Oil pra Stooges, Replacements, Unsane, Osrich Tentacles, Jon Spencer Blues Explosion, Ministry... foi uma evolução fudida!

    Paralelamente nessa época, minha programação diária do dial era a Brasil2000 mesmo. horário comercialzão e os caras rolando MC5, Fugazi, Big Black, Sonic Youth... inconcebível pra uma rádio hoje em dia. uma vez eu tava no trânsito fudido e os caras meteram uma coletânea da Rhino de ponta a ponta, só de punk classe A, as 3 da tarde: Husker Du do primeiro disco, MDC, 7 Seconds, Misfits, Dickies, Minor Threat, Circle Jerks, Germs... cara, abri a janela no meio do trânsito e botei o som a fuder. foi animal. é um desses momentos particulares que não se esquece nunca. e isso tudo, pasme, numa rádio.

    Nessa mesma época eu descobri, meio sem querer, que rolava um programa chamado Garagem (acho q na Cultura FM...!) encabeçado pelo jornalista André Barcinski. eu já conhecia as opiniões dele sobre rock desde a revista Bizz: meio que um paga-pau do Lester Bangs no quesito "expressão escrita"... mas o gosto do cara não mudava por isso: odiava o Dio e idolatrava os Ramones. pra mim é o suficiente. e foi nesse programa que eu ouvi o melhor rock/punk/hardcore e que até então eu não conhecia 80% das bandas. minha evolução musical graduou daí em diante. se bem me lembro, esse programa não durou muito tempo na emissora porque os caras botavam umas promoções escrotas pros ouvintes do tipo "mandar dono de gravadora se fuder"... e mesmo com uma boa audiência - talvez a melhor da emissora - o programa saiu do ar. voltou anos depois na Brasil2000, mas aí eu já tinha desencanado do rádio e não consegui voltar a ser um ouvinte assíduo. coisas da modernidade. culpa da internet, provavelmente, que deixou todos nós "malacostumbrados" com a facilidade. por exemplo, ontem um amigo me perguntou de uma música antiga do Big Boys; eu entrei no site da amazon, descobri que música era, entrei no slsk, baixei o som e mandei pra ele pelo msn: "essa mesma!", ele disse. tudo isso em 10 ou 15 minutos. e o que dizer sobre o rádio??? ...você ouve rádio?...

    daí não tem como competir, né...

    0 coffee junkies: