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sobre "dissincronia"

  • quarta-feira, 21 de novembro de 2007
  • Wash.
  • notei que meus textos têm tomado um rumo meio niilista, últimamente.

    assisti um dia desses esse filme com o Sean Penn, chama "O Assassinato de um Presidente". o enredo parece pobre: um cara desiludido com o mundo coloca a culpa de seus problemas no presidente, então no mandato, Richard Nixon. mas o motivo está longe de ser a razão principal da estória; é impressionante como algumas pessoas não andam sincronizadas como os outros, com o resto do mundo. meu deus, fiquei pensando nisso: como o mundo é dificil, complexo e inalcançável pra algumas pessoas, as dissincronizadas, as que levam a vida em seu prório tempo do jeito que acham melhor. as que procuram se encaixar, e sofrem tentando em vão: aliás, esse filhadaputa do Sean Penn sabe interpretar, viu. pra caralho. dá pra ver o esforço que o cara faz pra se adaptar, o sofrimento em tentar agradar e só ver as pessoas se afastando, as coisas dando erradas. a solidão destruindo uma pessoa que necessita de companhia. em pensar que isso pode estar acontecendo com alguém, seja aonde for, em algum canto do mundo, agora... sim, dá pra imaginar que existam vários "dissincronizados" por aí. em certo grau - muito mais leve por sinal - eu posso até me enquadrar num caso de dissincronização: sem extremismo, claro. sem atitude sociopata, por deus!... comprovadamente eu sei como me relacionar, de boa... de boa... (sic). um dessincronizado só no jeito de ver como as coisas são e como elas deveriam ser, mas até lá eu sei qual é a distância, eu sei que ela não pode ser impedida e eu sei que isso me mantém LONGE de encrenca. enfim...

    realmente, o sean penn sabe dar vida pro bagulho. dúvido que ele seja um dissincronizado como o personagem, mas ele sabe do que se trata, muito bem. ele tira de dentro de si um cara empatado, que quer viver normalmente, tratar e ser tratado com carinho, mas que nunca será compreendido. nunca será aceito. as pessoas o repudiam, acham-no ridículo. e pior, ele nunca saberá como reverter isso. é triste como um pequeno parafuso solto na fuselagem pode comprometer a estabilidade da máquina inteira. engraçado é que se pensar bem, você vê pessoas assim na rua, em seu bairro, na sua vila. algumas dessas pessoas que perambulam sem destino nas ruas de São Paulo podem ter sido pessoas antes como eu e você. a dissincronia foi aumentando gradativamente, o "jogo" do parafuso foi afetando a fuselagem toda, as engrenagens internas. o fim é a rua, a invisibilidade social, o esquecimento. a regra é clara: é a vida como tem de ser vivida, como é imposta, ou a rua... óbvio que todo mundo tem problemas, mas pessoas assim sofrem demais nesse mundo-purgatório, tanto quanto (ou mais) que deficientes físicos, homossexuais, negros, indios, mulheres, sérvios, tutsis, curdos. a crueldade contra as diferenças está espalhada por todos os reinos, imprescindívelmente.

    cada dia que passa continuo achando que o mundo não precisa de mais pessoas, e pessoas não merecem essa vida cretina que alivia um lado pra pesar de outro.

    esterilização em massa já.

    0 coffee junkies: