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sobre a insignificância

  • terça-feira, 27 de fevereiro de 2007
  • Wash.
  • eu já vi a Torre Eiffel num dia ensolarado. já vi a neve caindo grossa, cobrindo uma praia inteira no Mar do Japão. já vi O Grito, de Edvard Munch, antes dele ser roubado e encontrado de novo 2 anos depois. vi (no sentido de presenciar) um terremoto que balançou todas as prateleiras de um supermercado. também vi um tufão quase arrancar o telhado de onde eu então morava. já vi 4 oceanos. já vi um dia de Rio 40 (e dois) graus, uma semana de Éden no Rio Grande do Norte, meses de outono europeu, anos de estações definidas asiáticas, centenas de dias da garôa paulistana. eu já vi um homem morrer. eu já vi o estrago que faz uma panela de pressão explodindo. eu já formulei o nascimento de um sonho e o vi se esfacelando - mas não acabar a esperança. já li vários livros, assisti centenas de filmes e ouvi milhares de músicas. já tive um amigo iraniano. já vi uma catedral vienense de 900 anos que sobreviveu a duas guerras mundiais - e me senti um cisco, um nada, ao lado dela.


    aí você pode dizer "e daí?? tem gente que já viu o Himalaia, já viu os restos do Titanic no fundo do mar, já viu um furacão classe 5, já viu os dentes de um tubarão a 2 metros de si..." sim claro!, mas também tem gente que não viu nada. o conjunto dos fatos relacionados numa vida raramente é tão importante para ter um reconhecimento mundial, a não ser pra si próprio, se é que me entendem.


    de repente eu fale detalhadamente sobre cada um desses assuntos, mas de repente eles realmente só importam pra mim mesmo. de repente a gente se levanta uma manhã e sente assim, como uma curta existência humana ao lado de uma catedral milenar ou de um baobá de 500 anos, e se vê na situação de provar pra si mesmo que já fez, viu, falou, ouviu e aprendeu algo de útil na vida. de repente eu tenho 30 e poucos anos e acho que já vi muita coisa na vida, mas sei que muitas pessoas já viram muito mais que eu, e ainda tenho muita coisa pra fazer, ver, falar, ouvir e aprender.

    o importante é registrar tudo e guardar pra sí próprio, praqueles dias que você levanta da cama sem propósito na vida. soa meio auto-ajuda, mas é verdade; a natureza deu aos humanos a dura missão de tentar contornar a insignificância das suas vidas nesse planeta. nunca estamos satisfeitos.

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