sobre paternidade e bebedeiras

  • segunda-feira, 28 de setembro de 2009
  • Wash.
  • (comecei a escrever esse texto no dias dos pais, e só consegui terminar agora, quase 2 meses depois: meu computador quebrou e tenho ido pra casa só pra tomar banho e dormir, portanto tendo isso como prólogo, vamos às vias-de-fato da pataquada, digo, do texto)

    ***

    me perguntaram o que eu ganhei no dia dos pais. teve resposta insípida e grosseira: "nada pô... nem pai eu sou! e nem o capricho de ser eu tenho" ...pelo menos até onde eu sei, né. nunca me vieram reclamar paternidade ou pensão ou diabo qualquer relacionado à isso e se existisse, tenha certeza, se existisse essa possibilidade, reclamariam. ahh! reclamariam...

    mas gente!, que mal há ser um adulto em plena crise de meia-idade, sem um futuro reforçado por previdência social, sem um puto no bolso... e sem filhos!! pra outras alternativas sempre existe um motivo, mas pra filhos não??: pros diabos com essa conversinha! não me venha com essa estória "cristã" de que todo homem formado, pra ser homem, precisa de filhos, porra!, que argumento cretino. ideia assim só poderia ter base em dogma religioso mesmo - aliás me tremo pra não entrar nesses assuntos. não preciso ser chamado de "infiel" ou "ateu" sem um argumento mais convincente; haverão oportunidades mais cabíveis, enfim. o caso é que podem até me chamar de egoísta, mas já me basta a minha vida, com qual nem mesmo dela dou conta sozinho, o que me dirá uma criança pra cuidar! além disso, tendo como base a equação simples feita entre a quantidade de pessoas já plantadas no mundo com a possibilidade de agua, comida e emprego pra todo mundo daqui a 30 anos, supostamente quando um filho meu chegaria a idade adulta... bem, olhando por esse ponto de vista eu diria que tenho um problema a menos. resumo o planograma, encerro esse assunto e passo pro outro. fácil assim, passa a régua e fecha a conta.

    sim, lembrei. a coisa estranha que eu vi nesse último dia dos pais foi uma sugestão de presente, não muito ortodoxa: "deixe a casa do seu pai mais aconchegante, dê flores ao seu pai!"; olha só, não que eu seja um modelo de humanóide preconceituoso, cheio de rancor e hostilidade no coração. sim, um pouco eu tenho, confesso! mas não vem ao caso; o que diria meu pai, por exemplo, se eu viesse até ele com um ramalhete de flores? diria conclusivamente o seguinte: "mas que diabo é isso? é pra sua mãe? o que você supõe que eu deva fazer com isso? colocar num vaso na minha mesa no escritório?...". bom, a resposta dele seria convincente. uma garrafa de whisky ou um livro de fisica mecânica seria muito mais útil pra ele. pra mim também. não o livro de fisica: só a garrafa de whisky.

    alias esse negócio de beber demais tá ficando sinistro pra mim. não sei bem se voltar a vida de solteiro tem à ver com o fato, mas minha cota de alcool semanal tem aumentado consideravelmente: agora faz parte da minha rotina levar 3 latas de cerveja e um pacote de Doritos pra casa, todo santo dia, depois do trabalho. uma dose de vodca com soda também faz parte, esporádicamente. juro que nunca fui assim! quanto aos fins de semana então, nem sei se é digno de relatos...

    não que eu tenha um passado à niveis de Henry Chinaski, e apesar de alguns ainda me conhecerem como bebassa, poucos tiraram a prova de até onde eu poderia chegar na depreciação da imagem humana, como um verme jogado na calçada com cachorros lambendo a boca espumosa. algumas poucas vezes bebi o suficiente pra não me lembrar do aconteceu no dia anterior, ou de chegar ao ponto grotesto de gorfar no colo de alguma garota, isso nunca! - (quase) nunca vomito, coisa que me beneficia enquanto "bebedor inveterado" (meu deus...). mas enfim, já que comecei nesse assunto, vamos enfeitar um pouco em torno; meu primeiro copo americano cheio de cerveja eu bebi, creio eu, com uns 4 anos de idade. todo o crédito da iniciação vai pro meu grande (finado) tio Sebastião. um bom bebedor, que ao lado do meu pai, e para o terror das esposas, adoravam ver os filhos pirralhos entornando um copão de cerveja, só pra ver a merda feita depois: criança trançando as pernas, caindo à toa, dando risada de formiguinha andando no azulejo da cozinha... e dormindo rapido, claro, criança que dorme não enche o saco de adulto. de repente era uma boa ideia. mas, com um resultado tenebroso, deu no que deu: já cresci com gosto pro alcool.

    a evolução dessa situação criada na tenra idade da inocência obviamente não poderia ser diferente: ainda jovenzinho tive hepatite contagiosa, o que me proibe de certa forma a ingerir quantidades categóricas de alcool. agora me pergunta: você pensa que isso altera alguma coisa? e complementa: você pensa que isso vai dar num bom resultado num futuro proximo? bom, eu diria que apesar de não possuir uma aparente tendencia à auto-destrução, mesmo assim não penso no futuro como deveria pensar. ando com essa meia impressão de "Lobo da Estepe" ultimamente, sabe. não que eu esteja predizendo sobre o que pode vir à acontecer, mas afinal uma hora dessas nós todos morreremos mesmo! e apesar disso eu tenho a impressão que ainda me resta alguns milhares de copos de cerveja e umas centenas de garrafas de vodca pra consumir, até a hora chegar.

    de resultado mesmo, só me resta saber quem vai pro chão primeiro: eu ou minha dignidade.