sobre 3 dias em Amsterdamned.

  • terça-feira, 31 de março de 2009
  • Wash.
  • (trecho extraido do diario da tour Europa 2005 Discarga / I Shot Cyrus)

    Amsterdam, 17 de Outubro de 2005 - um pequeno resumo das últimas duas noites em Amsterdam. na primeira - domingo 16 de outubro - ja fomos levados de cara para a esbornia: a Red Light Area. indescritível: eu já vi o sobe e desce da Augusta pegando, nos meados dos anos 90; já vi a Vila Mimosa em seu esplendor aterrorizante; mas a Red Lights de Amsterdan é um bagulho hipnotizante, realmente indescritível: se sua alma inconscientemente tem uma tendencia para a vida mundana, fraquejar, pode se considerar pego: entre os pubs magnificos e fervilhantes e os "coffee-shops" aconchegantes, vitrines exibindo garotas lindas, garotas half-mouth, garotas horríveis, garotas que não são garotas. entremeio as vitrines, comboios de turistas de todas as idades permitidas, de 18 a 70, exploram os arredores como se o lugar fosse a Disneylandia, como se as prostitutas fossem produtos em vitrines de um shopping. um turismo confuso e surreal: num coffee-shop vimos pela vitrine uma comunidade de velhinhas turistas sexagenarias fumando uma tora inacreditável; sorriram pra nós e deram tchauzinho com o bei no meio dos dedos, e nós estarrecidos do lado de fora da vitrine. que estoria de glaucoma o que, cara!!... e bastou meia hora nesse padrão pra estarmos bem adaptados ao nicho, nos sentindo em casa! bem... EU estava me sentindo em casa: ainda no domingo eu e meu amigo Gui andamos por todo o centro. cafés bistro e coffee-shops, lojas de souvenires, bares de jazz, algumas lojas de disco... esse sim é um lugar do caralho! no terceiro dia em Amsterdam eu já sabia onde ficavam todos os lugares, de tanto que andei.

    então essa noite eu tava na casa do Doidão; banho tomado e bem comido, resolvi dar uma volta por esse planeta convidativo chamado Amsterdam. I am sterdam. Amsterdamned. me myself and i, nem chamei ninguem. depois de andar e andar e andar, acabei sozinho aqui no pub San Francisco, um cafofo bukowskiano agradavel, tentando não ficar bebado o suficiente pra poder cuidar da minha própria segurança num pub cheio de chapados, traficantes e prostitutas. alguns são simpáticos e puxam conversa, mas não dou muita trela, só respondo. parecem simpaticos, mas nem dá pra confiar em ninguem aqui. me afasto do balcão pra uma mesa pequena, tentar escrever tranquilo, e uma puta senegalesa ou de algum canto da africa cola junto a mim. ela pede cigarro, mas não fumo nem tenho isqueiro, pensando que isso a manteria afastada. mas ela puxa assunto, pergunta de onde venho. o nome "Brasil" afeta as pessoas do resto do mundo de forma contagiante: todos gostam de conhecer brasileiros, não sei o que é isso!... ela me conta um pouco sobre o país dela, como as coisas são dificeis lá, do porque de estar ali trampando na Red Light, coisas assim. eu escuto com atenção, mas quando ela se oferece pra um programa eu desbaratino, digo que tou sem grana, qualquer coisa assim. mesmo assim ela é educada, se despede e vai pra outra mesa com maiores possibilidades de se dar bem...

    a essa altura da madruga, o bar já se pondo a fechar, pago minha conta e volto pra casa do Doidão pra descansar um pouco pra jornada de amanhã. Ainda saindo do pub me arrisco a procurar outra coisa pra terminar a noite. Em vão: bora pra ferry-boat porque já são quase 5h e tá tudo fechado e eu bem bebado. mas são o suficiente pra não esquecer dos detalhes da noite magnetica de Amsterdam, das vielas, dos pubs, das vitrines, da perdição do sexo, alcool, comida e drogas: o cara tem que ser muito controlado pra não desistir de tudo e ficar por lá mesmo, jesus maria e josé!!

    um dia taco fogo em tudo e venho de vez pra cá, godamned!!!...

    freestyle #2

  • sexta-feira, 27 de março de 2009
  • Wash.
  • é na quaresma que a identidade se revela. o olfato apura, a vista aguça, o ouvir campeia mais longo. as costas arquejam, insinuam as mãos em direção ao solo; se vacilar voce começa a rastejar, a andar de quatro como o seu animal feroz, aquele, guardado num desses armarios-arquivos da sua cabeça. as altas e baixas da maré, dizem que tambem inluencia. força gravitacional da lua, é o que dizem. luminescencia causada pela reflexão espelhada do astro rei, o Amon-Rá, o Surya, o Helium, o Kinich Ahau... e só por essa luminescencia já merece um sacrificio, mesmo que não seja cruel com os outros, mesmo que seja apenas uma penitencia, um auto-flagelo, uma transformação da propria identidade, aquela identidade que voce resguarda pelo dogma de resguardar, pela tradição de não mudar. ou pela simples preguiça de levantar do sofá, já marcado pelos contornos do seu traseiro incapaz.

    enquanto isso as autoridades continuam sua busca burocratica, sentados em seus desks munidos de muito café e broas de milho, ditando o que deve e o que não deve ser feito. cabe a voce obedecer as ordens. ou ignora-las. ou apenas omitir que na verdade voce é o lobo da quaresma que eles tanto procuram. bem, nem tanto: mandam procurar. enfim, não importa como seja o modus operandi, mas eles o querem em mão, sob controle. mal sabem que o tem ao seus lados, trabalhando junto deles, comendo suas broas de milho e bebendo do seu café. basta um explosivo plastico no carro estacionado lá embaixo, proximo ao bureau, e as atenções serão desviadas do foco do lobo, e voce pode continuar por aí, sob a força gravitacional da lua, sob o reflexo do sol, sob a influencia da maresia. e assim, na quaresma, a identidade se revela pra si proprio, apenas.

    sobre assuntos mais atuais do momento

  • domingo, 15 de março de 2009
  • Wash.
  • é, acho que a coisa anda ficando feia mesmo: a Troia não deve ter gostado da ultima variedade de ração que eu comprei, nem quer come-la, e hoje cheguei ao cumulo de jogar na cara dela: "num reclama da comida não, voce nem tem que pagar conta nenhuma..."

    ela é um gato. gatos não pagam conta.

    acho que preciso de um emprego novo....

    "who watches the watchmen?..."

  • segunda-feira, 9 de março de 2009
  • Wash.

  • "voces estão enganados! não sou eu que estou aqui preso com voces: voces é que estão presos aqui comigo!!..."

    (Rorschach, Watchmen.)

    ***

    obvio que depois de assitir o filme eu não resisti de escrever sobre ele, obvio...
    foi uma porcaria de um sabado frustrante: tava com uma puta fome e não consegui chegar a tempo no Lotus; não consegui folga do trampo e nem dinheiro pra ir no Circle Jerks; não consegui sair a tempo do trampo pra ir na festa de um amigo, além de continuar sem dinheiro, sem balada e cansado bagarai. derrotado: me restou fazer um ranguinho em casa e cair na cama. mas no domingo não ia dar pra passar batido, não ia desgraçar o meu fim de semana por completo. tinha que ter algo pra salva-lo: e antes do trampo tive que ir ao cinema assistir WATCHMEN.

    eu sei, a essa hora deve ter um zilhão de blogs por aí borbulhando sobre Watchmen, a estreia cinematografica do ano, a obra prima de Allan Moore filmado BRILHANTEMENTE por Zach Snyder, o Spielberg da nova geração, blah blah blah... eu sei que é carne de vaca. mas que se dane. tou afim de escrever sobre Watchmen porque sou um nerd que comprou essa caralha quando saiu a primeira edição e espero por esse filme ha pelo menos 15 anos, então me deixe.

    primeiras considerações: se eu fosse o mal-humorado do Allan Moore, eu ficaria orgulhoso pelo menos dessa vez de ter uma obra minha transposta pra tela de forma tão coerente e magistral; é óbvio que a maioria das adaptaçoes de livros ou quadrinhos para o cinema não são fieis. não tem como ser: pra adaptar tudo que a estoria pede, viraria uma novela. mas Watchmen coube num longa de 3 horas sem deixar buraco no roteiro, sem enrolação e sem grandes perdas da estoria original. sem contar que não houve incongruencias como ADAPTAR figuras ou situações politicas pros dias de hoje, não. o roteiro se manteve nos anos 80, assim como foi escrito. alguns quadros foram extremamente fieis à quadrinização original. até a trilha sonora se manteve inabalada nos anos 80 e antes, sem adaptações de bandas novas e coisas assim (muito conveniente uma cena que um grupo politico discute planos de dominação mundial enquanto rola "everybody wants to rule the world", dos oitentistas Tears for Fears, em BG). e o melhor de tudo: ainda bem que demorou tantos anos pra adaptar pro cinema, graças a tecnologia proporcionada. se fosse ha 5 anos atras, provavelmente teria saido uma porcaria.

    legal a movimentação, efeitos visuais, dinamismo, violencia, porrada, sexo, essas coisas todas que fazem parte... mas correndo o risco de fazer um comentario cretino aqui, dá pra dizer que o grande insight de Watchmen é decompor a imagem do super-heroi, do homem inatingivel, inquestionavel, do homem como ser supremo no universo. Moore dichava o id, ego e superego com uma estoria onde a grandiosidade do homem na figura de herois uniformizados que "mascaram" mau-caratismo, abuso de poder, promiscuidade e loucura. desculpe a frase pronta, mas tudo indica que Moore é desses que "escrevem certo por linhas tortas" (entenda escrever certo como discussão filosofica e linhas tortas como quadrinhos juvenis). ele traça um possivel percurso da historia dos anos 80 em diante, existindo a possibilidade de que um supergrupo de defensores (sendo que apenas um deles tem poder sobrehumano ilimitado) ajam de acordo com o "bom-senso politico" americano. não dá pra contar a estoria inteira, mas o decorrer de algumas situações criadas rola uma analise filosofica fudida sobre moralidade, existencialismo e a relação homem-deidade. não foi a toa que Watchmen mudou o curso das revistas em quadrinhos e do formato humanizado dos herois de quadrinhos modernos: o bagulho é genial.

    meu destaque em tudo isso fica pro Rorschach, ex-integrante do grupo de super-herois que resolve investigar o assassinato de um deles, no maior estilo film noir, narração em primeiro plano. Rorschach é um anti-heroi de crueldade unica, violento até o osso, e com uma disfunção de personalidade brutal que só se reconhece socialmente com uma mascara na cara, e quando sem a mascara é quase um casulo de pessoa. Rorschach é em termos o mais desequilibrado, e no entanto é o unico a encarar de frente um "deus" em nome dos seus principios. o deus ganha, é claro.

    Top 5 Albuns "Fuckin' Ever", parte 2

  • domingo, 1 de março de 2009
  • Wash.
  • parte 2: John Zorn's Naked City - debut

    (download)


    quanto se pode destilar de horror, brutalidade, morbidez e esquisitise da figura de um judeu de meia idade, esqualido e desengonçado usando um óculos bottonglass? John Zorn mostrou, com esse Naked City, que o monstro contido num nerd pode ser ilimitado...


    lá pra 1991 eu comecei a comprar cds. me alegrava comprar cds; depois de anos eu conseguia deixar a velharia do vinil e entrar na maravilhosa era da tecnologia digital. eu mal sabia como estava enganado com essa troca...


    bom, pelo menos na época era uma boa alternativa pra até então "não-existencia" da internet e do mp3, e pra quem não encontrava as bandas que queria, pq o cd trouxe muita coisa pra cá que se fazia dificil trazer em vinil, não valia a pena pras importadoras. agora, anos depois, vemos que a midia da nova tecnologia é fragil demais e fica obsoleta em pouco tempo, enquanto o bom e velho vinil, com os devidos simples cuidados, dura pra sempre, e com qualidade muito superior de som...


    mas o Naked City. assim q eu comecei minha coleção de cds, um dos primeiros que comprei foi esse que ja me era chegado como classico sem nunca ter ouvido antes: o disco debut do Naked City, formados por veteranos do jazz novaiorquino e encabeçados pelo cultuado John Zorn, que já fazia seu nome por anos a fio com seu nivel acentuadamente evoluido pela vanguarda local. serio: ao lado de John Zorn, só alguns poucos musicos de nova york conseguiram exito em levar o avant-garde para um publico, não muito grande porem diferenciado, mais direcionado ao rock: entre eles o Sonic Youth, o DNA e o Half Japanese, que tiraram as influencias diretamente da "vanguarda mais vanguarda" dessa cena (Glenn Branca, John Cage e Stockhausen) e meteu a formação guitarra/baixo/drum kit tipica do rock. no caso eu destaco John Zorn por ele chegar a um nivel relativamente "extremo" do termo varguarda. ele associou, tendo como base a intensidade e espontaneidade sonora, as cena grind/hardcore de nova york/londres/tokyo, diretamente como um "braço" da musica de vanguarda que vinha sendo trabalhada por caras como Ornette Coleman, Art Essemble of Chicago, Don Cherry, caras do jazz mesmo!... e essa associação musical de repente fez sentido pra mim, e me fez ver Napalm Death e Extreme Noise Terror com outros olhos. no disco, ele não cita nem agradece nenhum artista do jazz varguarda, como podia se esperar: ele agradece e cita Napalm, E.N.T., Boredoms, The Accüsed, Lip Cream, Carcass, Ruins, entre outras bandas extremas. anormal para um musico de jazz com formação classica em piano e que domina de forma aterradora o saxofone e criou um instrumento chamado "game call"??... dessa forma quase nada seria estranho.


    Nem tampouco o acharia, se baseando por exemplo no trampo grafico de todos os cds do Naked City; temáticos, todos abordam assuntos tabus: o debut levava na capa uma foto do cadaver do gangster WeeGee, o presunto estendido no chão com a boca arregaçada. isso além das ilustrações sinistras do desenhista outsider japones Maruo Suehiro. Torture Garden traz cenas de filmes undergrounds japoneses de bondage e SM extremo; Grand Guignol, homenagem ao teatro de horror frances que chocou Paris no começo do seculo 20, mostra uma cabeça humana milimetricamente serrada expondo partes do cerebro; um dos q mais choca é o Leng T'che, que mostra uma foto rara de uma execução publica chinesa medonha, que consistia em entupir o condenado de ópio e fatia-lo, vivo, em 100 partes (em mandarim, leng t'che).


    foi um choque auditivo. Naked City começa com uma leitura estranhissima do tema de Batman, retorcida sob sua base original. a seguinte não indica nem um pouco o climax do disco: é uma releitura do classico de Morricone, the Sicilian Clan, cheia de bases climaticas e suaves, lindissima, assim como mais algumas trilhas encontradas no segmento do cd inteiro. mas a paulada na fronte vem com Reanimator, obviamente homenagem ao filme gore dos anos 80; dai em diante o quinteto arregaça uma brutalidade sobre os instrumentos, na boa, de ficar de queixo caido. no ápice do esporro, o quinteto varia em sexteto, botando o japa mais insano da ilha, Yamatsuka Eye do Boredoms, no vocal (vocal??...); os berros de Eye, que mais parece estar sendo morto a pauladas, ou atacado por um urso, dão o grande toque de sofrimento e agonia por tras das composições caóticas, que por sinal eu pensava que os caras tocavam no default, mas pra minha grande surpresa comprei um video anos atras do Naked City tocando ao vivo no NY Radio Music City Hall, e lá estão eles, todos os cinco seguindo partituras!!... quando entra o japones, contrastando com o resto da banda com seu estilo crust de dreads saltando pra fora do capuz na cabeça, ele é "regido" por Zorn, que dá os sinais do momento certo pra que Eye solte os gulturais podres no meio da musica. esses shows do Naked City deviam ser espetaculares, já que as vezes Yamatsuka Eye era substituido por ninguem menos que Mike Patton... daí a destruição atinge patamar catastrofico. o projeto Naked City encerrou suas atividades em 1993, mas Zorn continua até hoje a trabalhar com o seu "grind-avantgarde" em projetos como Cynical Hysterie Hour, Nani Nani solo com Yamatskuka Eye, Hemophiliac com Patton e Ikue Mori, a serie Music Romance, Moonchild/Astronome/Six Litanies, entre os muitos projetos que mantem. com certeza um dos caras que mais trabalham no cenario musical mundial da atualidade. e apesar da barulheira toda, acredite: pra ele isso é jazz. como dizem as letras pequenas no encarte do Spy vs. Spy: "fuck hardcore rules".


    PS: tem um blog italiano que além do debut Naked City, tem a discografia inteira, assim como os trabalhos de Zorn no Painkiller, Masada, Filmworks e varios outros. indispensável pra quem gosta desse maluco.


    http://zornography.blogspot.com/
    enjoy.