sobre a raiva pelo semelhante

  • segunda-feira, 30 de junho de 2008
  • Wash.



  • garoto enxaqueca, de Greg Fiering. tem coisa melhor pra mexer na net as 4h30 da manhã do que isso não. dá só uma olhada: http://www.flickr.com/photos/28728377@N07/sets/72157606240463794/

    sobre música, religião, e ouvir Morphine na rua.

  • domingo, 29 de junho de 2008
  • Wash.
  • eu acho que a música realmente influencia no jeito de ser da gente. pelo menos tenho certeza que influencia no MEU jeito de ser. acho que provoca a mesma sensação em alguém que é religioso na busca pela sua fé, já dizia São Coltrane, e se minha assinatura tivesse crédito na praça eu assinava embaixo, inteiramente: acho que finalmente começo à compreender e à absorver o "amor supremo" difundido por Coltrane; ainda sou meio "humano" e sinto que preciso de respaldo, de apoio pra continuar, seja qual for a missão. vícios não me servem: alcool é só diversão e não presta pra esse propósito. é como veneno. cigarros também. um leve vicio em café e coca-cola, mas não serve como apoio incondicional. religião, deus, buda, allah, krshna, kamisama, charles manson...? não. minha visão é mais mitológica do que sagrada... um outro dia explico essa parte melhor, enfim.

    e finalmente me sobra a música. a música serve como religião, partindo desse ponto. meu estado de espírito se retorce de acordo com o som que sai dos fones. me firmo como concreto e me afundo como em areia-movediça com a rapidez de uma faixa pulando pra outra. é tão grave que geralmente preciso escolher bem o som que vai me servir de trilha sonora em ocasiões: por exemplo, easy-listening pra ir trabalhar, punk rock pra pré-balada... e assim por diante. e se esqueço o mp3 player em casa... pode voltar pra trás!

    ***

    dia desses eu andava pelas ruas de Pinheiros, ainda úmidas pela chuva recente. 3 horas da tarde, aquele dia cinzento, menos quente do que frio, e Morphine rolando nos fones. o efeito foi incrível. de repente me pego pensando sobre minha vida de jeito que eu não pensaria se o clima fosse outro, se o lugar fosse outro, mas principalmente se a MÚSICA fosse outra. não entremos em detalhes sobre os pensamentos propriamente ditos: só sobre o efeito causado. o Morphine em especial me causa efeitos diferentes, o nome dessa banda não poderia ser mais apropriado; até já escrevi algo relativo num momento de "entorpecimento" causado pela combinação do THC, álcool, e do som de uma música em especial - Souvenir - que foi quase uma manifestação física do subconsciente. animalesco. bom, muitos outros me causam efeitos parecidos: Tom Waits, Portishead, Soul Coughing, Jesu, Godspeed You Black Emperor!, Massive Attack, ... mas Morphine é realmente um caso à parte; de como o som deles retorce a minha mente e espreme lembranças e reflexões.

    enfim, me fez bem. faz bem você ter a flexibilidade de pensar na sua vida de uma maneira que ela não aconteceu, mesmo que ainda um dia aconteça. faz bem a possibilidade. dessa forma caminhei, como faço todo dia até o ponto de ônibus. subi no ônibus, visualizei o caminho, desci no meu ponto e caminhei até o trabalho, como faço todo dia. mas o som muda o vislumbre de tudo, deixa tudo mais claro, mais nítido. você vê a beleza de detalhes que não veria de outra forma, você vê beleza no vento soprando forte o casaco de uma mulher, ou num balconista limpando o balcão sujo de cerveja do buteco, ou numa pessoa qualquer lendo jornal na parada do ônibus. tudo por causa do som. e isso é o APRENDIZADO, o SALMO, a PERSEVERANÇA e a RESOLUÇÃO: o verdadeiro amor supremo.

    curioso como o som de um baixo, sax e bateria fornece esses dados pra massa cinzenta. uma endorfina sonora... realmente foi uma pena o Mark Sandman ter empacotado tão subitamente; bom, pelo menos foi de um jeito legal: em cima do palco, no meio de um show. não deve ser melhor do que "com a cara enfiada no meio das pernas de uma bela dama" (essa estoria de novo...) mas é ok também! o Diamond Darrel do Pantera também morreu no palco, mas levar uma sapecada de tiros deve ser tão ruim sobre um palco como num beco em Diadema... ou seja: não faz muita diferença!

    hmm... aliás, como eu cheguei nesse assunto mesmo?...

    sobre frustrações e Husker Du

  • domingo, 22 de junho de 2008
  • Wash.
  • frustração é uma merda incrível mesmo, né.

    estava descendo a rua augusta pra encontrar um amigo. uma sexta feira dessas qualquer, muita gente na rua... como se diz: "a rua cheia de NINGUÉM", se é que me entende; no mp3 player, rolando Husker Du. adoro Husker Du, de verdade, é uma das minhas preferidas... mas não sei se Husker Du é apropriado pra se ouvir numa sexta-feira a noite indo pra um rolé. me entenda: o Husker Du foi uma das minhas grandes influências no meio musical alternativo. acabei ouvindo e decorando fase por fase que esse trio passou dentro do hardcore mais extremo ao pop mais "emo", pra se ter uma abrangência mais moderna e compreensiva do trabalho deles nos dias de hoje; mas dentro disso, uma coisa eu digo: quando eles resolviam serem deprês, eles levavam isso ao pé da letra!...

    enfim, a coisa toda culminou desse jeito: de repente eu tava descendo a augusta e de repente, mais que de repente, resolvi ir pra casa. o ônibus já tinha acabado. mas ok, fui a pé mesmo. nem pestanejei, preferi ir pra casa a pé do que ficar e encontrar meu amigo pra papear e beber mais.
    é assim: de repente você está bem, acha que está com seus problemas e temores sob controle, e de repente tudo muda com a intensidade de uma supernova. "boom" na cabeça e pronto, muda tudo. ir pra casa é a melhor opção nessa hora, sem falar com ninguém, só com seus pensamentos livres e diretos, só pra si mesmo. não é nada demais, life goes on e bola pra frente, amanhã é outro dia, porra!

    não que eu goste de ser "bipolar" assim comigo mesmo. de fato é quase um transtorno obssessivo-compulsivo, porra: você se influencia e se deixa envolver assim com seus próprios pensamentos de forma que muda seus planos já no meio do caminho. é foda, eu sei. mas é o meu jeito. eu sei que pode ser moldado, mas... ainda me falta um pouco de força de vontade. não me importo: quando eu cansar de bater com a cara no muro, de dar soco em ponta de faca... eu mudo. senão, a velhice se encarregará de mudar isso. por enquanto, i can't help myself. period.

    ***

    ah sim! a música era mais ou menos assim:

    "It's a great big world
    There's a million other guys
    I feel so lucky when I look in those green eyes
    Is it the sun that makes them so green?
    Those are the prettiest eyes
    I have ever seen

    Green eyes...

    What makes them sparkle?
    What makes them shine?
    What makes those eyes of yours look into mine?

    Green eyes..."

    sobre a falta do que fazer

  • sexta-feira, 20 de junho de 2008
  • Wash.
  • a minha idéia sobre ostracismo, sobre obtusão, sobre completa perda de consciência sobre o que é realmente importante; a minha idéia sobre o fim da expressividade social, sobre o FIM DA VIDA, enfim, é mais ou menos assim. vou descrever num acontecimento corriqueiro dos meus afazeres, dia desses:

    uma senhora aposentada, beirando lá seus setenta anos, aparente classe média-alta, me chama enquanto passo pela loja onde trabalho. corredor de massas para bolos e sobremesas:

    - o senhor trabalha aqui?
    - sim senhora, mas estou um pouco ocupado, vou chamar um funcionário para lhe...
    - me ajude aqui, por favor: essa gelatina é da royal, é de morango e tem 45 gramas.
    - isso, senhora.
    - e essa aqui é da marca própria, também é de morango e tem 85 gramas: qual é a diferença entre essa e essa?
    - basicamente nenhuma senhora. é que uma vem com mais açucares na mistura do que a outra...
    - mas isso é um absurdo!!! por que essa pesa mais que essa, se rende a mesma coisa? estou sendo roubada?? o modo de preparo é o mesmo das duas...
    - isso mesmo, senhora.
    - essa precisa de um copo de agua quente e um de agua gelada...
    - uhum, isso mesmo senhora.
    - e essa também, um de agua quente e um de agua gelada. o mesmo modo de preparo. isso assusta, não???...
    - pois é, senhora... (???... isso assusta???)
    - isso é muito errado! voces precisam entrar em contato com esse fornecedor que manda menos ingrediente e obtém o mesmo resultado! isso pode ser corrigido pelo INMETRO!
    - claro senhora. isso será providenciado...
    - bom, eu vou levar a de 85 gramas. acho que por ter mais volume, é melhor.
    - faça isso, senhora.

    ***
    pois bem. voltei aos meus afazeres normais dentro do trampo. olha, não que meus afazeres sejam os mais importantes do mundo: eu tenho que balancear contagem de estoques, ver quantidades faltando, como sumiram, porque sumiram, qual será o prejuizo geral no balanço mensal; enfim, é um trabalho. muita gente faz MUITO MAIS que isso durante o dia. MUITO mais. ao mesmo tempo, de repente é até mais importante do que o da pessoa que é responsável pela quantidade de açucar que vai no pó da gelatina, sei lá, foda-se o pó da gelatina... mas mesmo assim é obsoleto. tudo é relativo. talvez até a importância de relatar isso ou a importância que eu estou dando pra esse comentário sejam relativos, sejam mediocres e obsoletos. mas meu deus, parei por um momento e fiquei pensando MUITO sobre aquilo que aquela velha disse: "...isso assusta, não?"

    ...cara. como pode chegar a FALTA DE OCUPAÇÃO na vida de uma pessoa, que um dia já foi socialmente ativa, a ponto de se ter ISSO como preocupação?? isso como motivo de espanto!!... "isso assusta", ela me disse. juro que ela me disse nessas palavras.

    conclusão #1: assim me sinto importante... de boa, viu.
    conclusão #2: quero morrer com 50 anos. 55, talvez.

    em breve mais momentos de muita ação e aventura...

    sobre ficar mais velho

  • quarta-feira, 4 de junho de 2008
  • Wash.
  • vamos exemplificar da seguinte forma - uma forma coerente pro meu mundo, enfim: me sento encostado num balcão, em algum buteco sujo da Augusta. a Augusta já foi mais suja do que é hoje em dia, mas foda-se... ainda é um bom exemplo. enfim, no balcão do buteco um tiozão escroto senta ao meu lado. ele é o TEMPO. usa uma camisa de botões quadriculada de péssimo gosto, desabotoada até o meio da barriga. correntes de ouro no pescoço, esverdeadas pelo zinabre que sai do suor e do sebo na sua nuca. uma calça de sarja velha presa por um cinto de couro que desaparece sob a banha da barriga que desaba partindo do meio do peito. ele senta ao meu lado e seu cheiro é acre, arde as narinas pelo suor forte que ele exala. isso mais o mofo e naftalina das roupas me provocam uma sequência de três micro espirros. prendo o nariz pra que eles cessem.

    o senhor TEMPO senta ao meu lado e me encara, com um sorriso cheio de dentes amarelos. um "hehe" gordo desprende um hálito de camelo daquela garganta milenar. pede um rabo de galo pro balconista e manda na golada. pede outro. ele se vira de novo pra mim e balbucia uma sequência de silabas e perdigotos no meu rosto: "é o começo do fim", ele diz. "o que você tá achando?"... "vai aguentar?? vai pedir arrego??"
    "um dia o fim tem que começar, porque não hoje??" eu respondo. e não, não tenho medo. não tenho nada a favor, não tenho nada contra. em volta do buraco é só beirada, e partir daqui de cima é só ladeira! let it come! solta os seus leões na arena cheia de cristãos! manda vir que ainda estou de pé. acho que não te devo nada, nenhum centavo, tiozão. ainda estou na atividade, ainda sinto o vento na cara. enquanto tiver boca pra falar e olhos que enxergam no escuro, pernas pra correr e braços pra proteger do impacto, enquanto eu tiver um cérebro e souber usa-lo de uma forma minimamente coerente... tou aqui. só jogo a toalha hora que não tiver nada disso, e pro inferno essas ideias que "vão tentar puxar o seu tapete" porque... simplesmente não dou motivo pra NINGUEM querer fazer isso! esse foi o grande truque que você me ensinou, tiozão; esse foi no naipe do Houdine! o Robert DeNiro do Scorsese!... wakatá?

    o tiozão fecha a cara e ajeita a bunda gorda no banquinho minimo; "boto fé", ele balbucia de novo. "chico... bota um rabo de galo pro minino aqui. na minha conta"...