sobre a memória

  • domingo, 16 de março de 2008
  • Wash.
  • "se a minha memória tivesse data de validade, seriam de 10 mil anos..."

    essa frase é dita por um personagem do filme Chunking Express, de Won Kar-Wai. devo ter assistido esse filme pela primeira vez há uns 10 ou 11 anos atrás, mas até hoje essa frase retumba e ecoa na minha cabeça. não é por algum momento especial que eu tenha passado na vida até aqui. mas pelo que ela resume pelo que ela dá significado. às vezes parece que a quantidade de lembranças é tão vasta que é quase impossível ter vivido aquilo tudo em apenas uma vida... eu não acreditava nisso, assim como em muitas coisas em que hoje acredito, mas é verdade. é real. o corpo é uma formiga e a memória é um elefante.

    percebo isso quando as pessoas me perguntam "o que eu fazia antes disso?"... aí vêm um suspiro longo e a resposta imediata é sempre: "muita coisa. já fiz muita coisa na vida"...

    à primeira vista pode parecer alguém perdido, tentando dar um sentido na vida pra si próprio, escrevendo desse jeito. mas daí, depois de contar algumas (eu disse algumas, não todas) coisas que eu já fiz, o ouvinte sempre solta a mesma sequência de expressões: "nooossa! quanta coisa!!"... e em seguida vêm aquela: "e depois de fazer tudo isso, o que vc tá fazendo aqui?"... daí a resposta não vêm de imediato. eu sempre penso pra responder isso, ela entala um pouco. às vezes é "não sei... sinceramente!"; e às vezes é "c'est la vie!"... vai muito do dia, ou da minha animação.

    o mundo dá voltas. ontem mesmo eu tava tentando me lembrar qual foi a primeira vez que eu passei na rua que eu moro, e porquê. daí lembrei que poderia ter sido em 1994, ou 1995, com alguns amigos. mas de instantâneo mudei a resposta. eu não me lembro de ter visto essa rua a primeira vez que passei nela: eu havia acabado de nascer, logo ali, no hospital acima.

    e eu já fui e voltei. e fui. e voltei. ainda estou aqui e logo me vou. mas sei que vou voltar, sem ainda saber o significado disso, mas sei que sempre vai ser assim.

    sinto falta de momentos, sinto falta de pessoas e de lugares. sinto que queria estar longe e quando estou longe sinto saudade daqui. sinto que queria dar um sentido novo pra minha vida, toda vez que tenho a sensação que me falta um braço ou a cada momento que o coração incha de dor e parece que vai pular pela garganta. mas é tudo como um ônibus que faz uma linha circular; eu pego esse ônibus e sempre dou sinal pra descer no mesmo ponto. e a verdadeira maldição de ser o único animal que acidentalmente desenvolveu inteligência é ter ganhado de presente a memória, pra sempre voltar a pensar em tudo que já se fez até aqui; pensar que a vida é relativamente curta pro tamanho da memória destinada. e pensar que ainda tem mais...

    c'est la vie.

    sobre Portishead e writer's cramp de novo

  • sábado, 15 de março de 2008
  • Wash.
  • as palavras não vêm. cãimbra de escritor de novo.

    por enquanto só fica na cabeça a fala em português que abre o terceiro e recentíssimo disco do Portishead: "esteja alerta para a regra dos 3. o que você dá, retornará pra você. essa lição você tem que aprender: você só ganha o que você merece..."

    volto logo.